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domingo, 30 de maio de 2010

CRIAÇÃO E PROVIDÊNCIA

Frei Mário Sérgio, capuchinho

Não seria o tema da criação e da providência de interesse da Teologia e não da Filosofia? Sendo a resposta de interesse, também, da Filosofia, o que é específico dessa disciplina em relação a esse tema? Outras questões são possíveis de serem feitas: a pessoa humana é a realidade suprema? Existe outra realidade, anterior à pessoa humana e ao nosso universo? O Deus das tradições religiosas pode ser descoberto pela nossa inteligência? Portanto, é legítimo à Filosofia se perguntar sobre essas realidades. Não se pode impor limites à inteligência, nem barreiras, nem credos, nem obstáculos. É próprio da inteligência inquirir, perscrutar. É a inteligência que leva o homem a Deus. Ela pode descobrir a verdade sobre Deus, o que não se pode é fixar limites à pesquisa filosófica.

O que havia antes da criação? É uma pergunta intrigante. Seria o nada? Não se pode imaginar o ser e o nada ao mesmo tempo: uma vez que prevaleça o ser, o nada é destruído. Como o ser foi criado, não podemos, todavia, conceber o nada enquanto aquilo que era antes da criação do ser? De fato, Deus é o criador do ser. Deveria, então, logicamente, ser também o criador do nada! Devemos reconhecer, antes, que o nada é algo simbólico; não passa de um produto da invenção do homem, ao tentar compreender a criação: antes do ser, não havia o “nada”; havia Deus, que tudo criou à Sua imagem e que não gerou senão seres. A própria idéia de criação exclui a idéia de nada: tudo o que foi criado é, em função da própria criação, um ser. Logo, o nada não pode nem “possuir um ser” nem “ser um ser”.

O homem é ao mesmo tempo finito e infinito, porque é humano e ser. O ser é sua essência, mas, como ser humano, está mergulhado na existência. Está submetido ao tempo enquanto existente e é imutável em sua essência. Este duplo destino, entretanto, está em suas mãos: o homem é livre. A liberdade, que o marca indelevelmente, transforma-o e o faz transmutar o mundo, ao qual sobrevive enquanto ser puro. Na busca do homem por seu ser, acaba também encontrando o verdadeiro Ser, o Infinito. Então, cabe uma pergunta: por que certas civilizações não conceberam a idéia de um Deus único e criador? Provavelmente porque a busca do ser não foi conduzida por meios adequados ou não foi levado por esse termo. Para compreender a nossa razão de ser, necessariamente cumpre entender o mistério da criação. O aparecimento do homem no mundo foi determinado por um ato da vontade imutável de Deus. Existe um vínculo estreito entre o Criador e a criatura.

A criação é incompreensível, mas não ininteligível. A criação, no sentido próprio da palavra, ultrapassa evidentemente o alcance de nossa inteligência, uma vez que se trata de uma atividade que é privilégio de Deus, enquanto exige um poder infinito. Mas a idéia de criação não é ininteligível, quer dizer, absurda. Ao contrário, a idéia de criação é, antes de tudo, inteligível por si mesma, uma vez que atribui a Deus a onipotência que pertence logicamente e necessariamente ao Ser perfeito e infinito, — ela é, por outro lado, fonte de inteligibilidade, uma vez que, por ela, o universo se explica ante a razão, a um tempo na sua existência e em suas propriedades. Inversamente, a negação da criação equivale a elevar o absurdo à lei universal. À razão, repugna este suicídio.

Tudo quanto dissemos até agora de Deus volta a afirmar a realidade da Providência divina, isto é, da ação que Deus exerce sobre a criatura para conservá-la e dirigi-la para seu fim com sabedoria e bondade, segundo a ordem que estabeleceu na criação. Deus, com efeito, é infinitamente sábio, e a sabedoria exige que Ele vele sobre o mundo que criou, para conduzi-lo ao fim que lhe determinou, — Deus é infinitamente bom, e sua bondade exige que ele estenda a proteção de seu amor sobre as criaturas que são o fruto do seu amor, — Deus é infinitamente poderoso, e seu poder quer que ele governe soberanamente a obra saída de suas mãos.

A Providência não pode de nenhuma forma ser concebida como uma ação caprichosa, que modificará arbitrariamente o curso das coisas. Deve ser interpretada como a ação de uma Vontade soberana e infinitamente sábia, conforme a natureza de cada criatura, e, por conseguinte, no homem, à liberdade: ação cuja essência é orientar o curso das coisas em busca do bem de todas as criaturas, como o definem sua posição e sua função no universo.

Uma questão que perpassa o tema da providência é o mal. Se Deus previu tudo, e se Ele conhece todos os limites da matéria, e a perfeição não gera, nem cria, imperfeição, então, qual a origem do mal? “Teria Deus podido criar um universo físico mais perfeito?”. A finalidade do universo é o homem, criatura que Deus quis por si mesma, por possuir um espírito. O homem é uma criatura espiritual. É a obra prima do Criador. E, ao criar, Deus concede ao homem a liberdade de amá-lo ou não; de adorá-lo ou não. Ele o deixa livre em suas escolhas. A liberdade, mesmo falível, é um bem. Não se pode recriminar a Deus por ter dado ao homem o bem perigoso de sua liberdade. É uma prerrogativa maravilhosa a de ser capaz de determinar-se, por sua própria escolha, conformar-se, por um ato de vontade livre, à ordem divina, colaborando, assim, de alguma forma, com a atividade criadora de Deus. Esta perfeição não é absoluta, uma vez que comporta falibilidade. Mas a justiça exige apenas que o homem seja senhor de sua vontade e de sua escolha, de tal forma que, errando, assuma sozinho a responsabilidade de sua falta e dos males que dele derivam. O mal nasce, portanto, do ato livre do homem que escolhe não amar.

Portanto, o conceito de criação, como uma das possíveis explicações da origem do mundo, constitui um ponto central de referência na história do pensamento.

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