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FOTOS QUE EVANGELIZAM

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SEMANA DA FAMÍLIA 2014

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A FÉ E A FOLIA

Frei Mário Sérgio, ofmcap

Aqui em Aracaju, vive-se o clima de micareta. Uma multidão se dirige para a avenida onde os trios elétricos com seus artistas preferidos farão seu arrastão. No sábado, passei por lá para conferir a festa de rua. Um fato, porém, despertou-me a curiosidade e a atenção. Um grupo de religiosos ostentava cartazes com dizeres apocalípticos, tipo: “O Senhor Jesus está voltando!”, “Sua vida é de Deus!”, “Converta-se enquanto é tempo!”, “O salário do pecado é a morte!”, etc. A multidão passava pra lá, pra cá, indiferentes às mensagens de conversão. Fiquei pensando sobre o impacto que aquelas frases ocasionavam nas pessoas. Não me contive e comecei a interpelar alguns transeuntes. A maioria das respostas foi: eles são uns loucos, aqui não é lugar para isso! Na verdade, a sensação das pessoas era de insulto, provocação, irritação.
É bem verdade que o ambiente é dado a bebedeiras, uso excessivo de drogas, como pude presenciar. É um ambiente de prostituição, adultérios e toda sorte de contra-valores. Vi, também, muitas famílias se divertindo saudavelmente. Ainda temos muitas dificuldades em redimensionar o sagrado e o profano. Continuamos dicotomizando as dimensões de uma mesma e só vida. A fé e a folia não precisam se digladiar nas arenas contemporâneas, muito pelo contrário, a saúde do religioso está em sua capacidade de não exigir que o outro faça o mesmo caminho, trilhe o mesmo credo e compreenda a Deus da mesma forma como esse religioso o compreende. A folia sempre fez parte da fé! Por folia, compreendo a festa, a alegria, a vibração, o entusiasmo. O próprio carnaval (leia-se a festa da carne) tem uma de suas origens do seio do cristianismo medieval. Era a festa, digo, a folia, que preparava o povo para a penitência quaresmal.
Entendo que uma festa carnavalesca pode ser fonte de muitos pecados. Como pode ser fonte de muita alegria. Sei que muitas famílias são destruídas, muitos jovens se drogam, muita violência é praticada, muito dinheiro público é jogado fora... Como, também, reflito com o livro do Eclesiastes que há um tempo para cada coisa debaixo do céu. Se a evangelização não for criativa, educada, civilizada, respeitadora, criticam a Igreja Católica, mas repetem-se as cruzadas e as inquisições de modo silencioso, mas tão agressivo quanto. Muda-se a linguagem. E os métodos? O mundo dispensa religiosos, seja qual for o credo, que só sabem apontar dedos indicando o caminho do inferno. Se a religião não dialogar com a cultura, fazendo-se ponte entre Deus e a humanidade, digo sem medo, o mundo não precisa de religião. Se a religião não humanizar o religioso, ela é tão mortal quanto uma bomba atômica. Temo, por vezes, que aquele tipo de evangelização acabe mostrando uma face de um Deus sem senso de humor, o que é terrível para fé e para folia.

3 comentários:

  1. Caríssimo Amigo e Irmão, achei sua reflexão excelente. Já havia notado esta apelação no carnaval de Salvador e neste final de semana em Aracajú. Os cartazes são de uma evangelização ultrapassada, onde querem forçar as pessoas à encontrar o Cristo. Sabemos que aquele não é o melhor momento para se lançar a semente e ainda de uma forma tão apocalíptica. As pessoas precisam se encontrar no silêncio de suas almas para depois encontrar ao Cristo. A palavra de Deus é ouro e não pode ser lançada em solos pedregosos, onde brotarão, mas logo o sol irá queimar seus brotos. Evangelizar sim, porém sugiro aos irmãos em Cristo que utilizem formas mais suaves como é o próprio amor de Deus, ou até melhor promovam encontros em locais mais tranquilos. Mesmo assim observei um exemplo de evangelização mais branda neste précaju, foi a de uma empresa de segurança que pintou nas camisas dos cordeiros a frase: Jesus é a nossa Segurança. >> pra que melhor segurança do que essa? Foi muito mais criativa e sem dúvida mais proveitosa.

    Saudações Decolores!
    Marcos Gama

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  2. Valeu, Marcos. Também percebi as camisetas dos seguranças.

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  3. Quero te parabenizar por sua atualidade em quanto um jovem e muito inspirado evangelizador. Seu texto é muito claro e leve sem com isso perder a solidez e coerência teológica.


    Abraço meu caro e continue escrevendo essas maravilhas da prosa virtual!!


    Att.

    Luis Fernando

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