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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Esperar contra toda esperança

ESPERAR CONTRA TODA ESPERANÇA

Frei Mário Sérgio, ofmcap

Dentre as figuras bíblicas do Primeiro Testamento, uma alcança um relevo espetacular: Abraão. Nascido em Ur, região da Caldéia, ao sul da Mesopotâmia, é descendente direto daqueles que sobreviveram ao dilúvio. Casou-se com Sara, que não lhe deu descendência. Na idade de 75 anos, o Senhor lhe faz uma promessa: “Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar. Farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem; todas as famílias da terra serão benditas em ti.” (Gn 12, 1-2). Mesmo com a idade avançada, a esterilidade da esposa, os perigos da viagem, ele saiu confiando na promessa de que seria pai de uma multidão, conforme a etimologia de seu próprio nome (Abraão: pai de muitas nações). Abraão confia sem questionar. Lança-se a caminho sem temer os perigos da estrada. E vai em busca da terra que corre leite e mel. Nada se constituiu um problema para Abraão acreditar no Deus do impossível. Simplesmente acreditou! Como ser pai de uma multidão, se ele não tinha nenhum filho àquela altura da vida? Mas, com a idade de 100 anos e Sara com 90 anos, eles tiveram um filho: Isaac. Deus cumpre a promessa que fez a Abraão. O filho veio no tempo de Deus, não no tempo do homem. Mas, Abraão soube esperar a realização do milagre; soube esperar o tempo de Deus.
Depois da grande alegria que tomou conta do coração de Abraão e de Sara, o nascimento de Isaac, depois dela ter o ventre morto, infértil, Deus exige o sacrifício do filho. Deus disse: “Toma teu filho, teu único filho a quem tanto amas, Isaac; e vai à terra de Moriá, onde tu o oferecerás em holocausto sobre um dos montes que eu te indicar.” (Gn 22, 2). Deus prova a fé de Abraão. E, na obediência absoluta à vontade de Deus, ele toma seu filho e o leva para o sacrifício sem se quer perguntar a Deus os motivos de tal exigência. Quando Abraão erigiu o altar e arrumou tudo para o sacrifício, amarrou seu filho e levantou a faca para imolá-lo. Um anjo do Senhor apareceu e disse: “Abraão! Abraão!” “Eis-me aqui!” Não estendas a tua mão contra o menino, e não lhe faças nada. Agora eu sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu próprio filho, teu filho único.” (Gn 22, 11-12). Se tivéssemos a fé de Abraão, seríamos outras pessoas. Se Deus fosse uma realidade tão forte em nossas vidas, como O fora na vida de Abraão, seríamos outras pessoas. Se nossos questionamentos não nos atormentassem tanto, se nossas dúvidas não nos amedrontassem tanto, se nossas inseguranças não nos paralisassem tanto, seríamos outras pessoas.
Somos fracos na fé! Uma doença nos derruba, um problema familiar nos desanima, um desemprego nos desespera, uma dificuldade, seja ela qual for, nos tira a fé com muita facilidade. Constantemente perguntamos onde Deus estava no momento em que mais precisávamos Dele. E Ele nos deu o silêncio por resposta! Quanto mais gritamos na hora de nossa dor, menos ouvimos a canção de ninar que Deus entoa aos nossos ouvidos. Canção que acalma, suaviza, sereniza, fortalece, encoraja. Se tivéssemos a fé de Abraão, seríamos outras pessoas.
É na dor que o Senhor nos prova, não na alegria. É na minha experiência de limite, quando penso que tudo acabou, que Deus ainda exige o que eu penso não possuir mais: fé e coragem! A cana, mesmo esmagada, continua a dar doçura. Quem tem fé, possui uma sabedoria para viver e enfrentar as dificuldades que ninguém é capaz de explicar. Quem tem fé, aprende a ler o negativo, o doloroso e o frustrante com olhos de eternidade. O olhar da esperança cristã não se nutre da despreocupação pelo humano, mas da percepção humana a partir do coração de Deus. Eu creio, Senhor, mas aumentai a minha fé!
Se nós tivéssemos fé, dizia Frei Prudente Nery, mesmo pequena como um grão de mostarda..., assegura-nos Jesus de Nazaré, bem outra poderia ser a nossa vida. Então, jamais nos renderíamos, em desânimo, à face das provas e dificuldades. E teríamos a tenacidade de sofrer as demoras de Deus (Eclo 2, 1-6) e, apesar de todas as escuridões, caminharíamos ao encontro de um novo dia. E, malgrado todos os reveses, resistiríamos, na esperança de que, no ventre do hoje, está sendo gestado um novo amanhã, mais justo, mais belo... Na fé, creríamos que nem tudo está terminado e daríamos um passo e mais outro e outro mais, por sobre todos os montes e montanhas, na direção de novas possibilidades, por sabermos que o destino do mundo e de nossa vida não está nas garras das adversidades, mas nas mãos invisíveis e benévolas de Deus. Na fé, saberíamos que somos, sim, mais fortes do que nos prescrevem nosso desânimo e nossas aparentes fragilidades e veríamos que o lugar em que ora nos encontramos, plantados quais árvores não precisa ser o lugar de nosso fim. Que podemos, sim, arrancar-nos dessa fixidez e transportar-nos para os horizontes de outras e amplas paisagens. Se tivéssemos fé... Grandes seríamos, os homens e mundo.

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