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FOTOS QUE EVANGELIZAM

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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

DAR A OUTRA FACE

Frei Mário Sérgio, ofmcap

“Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra” (Lc 6,29b).

A leitura do evangelho da missa dessa quinta-feira (10/09) é uma exortação que Jesus dirige aos seus discípulos sobre o modo de ser daquele e daquela que se propõem ao seu seguimento. Dentre as tantas observações, Jesus convida a dar a outra face. Soa, quase, como uma bofetada em nosso ego, em nosso ser, em nosso orgulho. Teria, Jesus, sacramentado a covardia? Incentivado a fraqueza? Exaltado a subserviência? Um olhar superficial sobre o texto, leva-nos, inexoravelmente, a uma dessas conclusões... Ou outras tantas.

A Antropologia Teológica, na sua visão de homem, lembra-nos de que somos “Imago Dei”, isto é, imagem de Deus. O sagrado armou sua tenda em nossa humanidade. Plasmou sua marca em nosso ser. Somos territórios do sagrado. Fomos feitos do amor e para o amor. Quem não ama, desumaniza-se, pois o amor é a realização plena de nossa pessoalidade. Partimos do pressuposto de que o homem é bom por natureza. Claro, foi feito do amor, não poderia ser diferente. Mas, ao longo de sua história pessoal, social, religiosa, familiar e tantas outras, pode ter se esquecido dessa verdade, e ter se tornado uma pessoa má, agressiva, desfigurada, violenta, violentada... Quando o homem dá uma bofetada, ele se esqueceu de sua origem e de seu destino, quando, pelo contrário, ele concede a outra face, é porque nunca se permitiu afastar-se de seu próprio ser, vocacionado para o amor. Portanto, quem é maior: quem bate ou quem concede a outra face?

A cultura do ódio, da revanche, do revide, da vingança está tão impregnada em nosso modo de agir que não aceitamos, em absoluto, dar a outra face. Relembrar histórias de mágoas, de ressentimentos, de rejeições, de humilhações e, ainda, pensar na possibilidade de dar a outra face, parece-nos uma obra para gigantes, o que não somos. Violência só gera violência, como agressividade só gera mais agressividade. É insuportável para o agressor perceber que sua vítima não reage. Revidar potencializa a agressão. Não-revidar envergonha o agressor. Dar a outra face é manter a paz interior mesmo quando ela está, exteriormente, ameaçada. Essa intuição psicológica de Jesus de Nazaré é espetacular. Dar a outra face é promover uma cultura da paz, da compreensão, da fraternidade. Dar a outra face é um caminho seguro de libertação e de felicidade, não mediante uma estúpida passividade, mas pela força ativa do perdão e do amor.

Todos somos muito bons e educados quando sorriem para nós, quando tudo ocorre do nosso modo e de nosso gosto; mas perdemos, facilmente, tal compostura diante de qualquer contratempo, desatenção ou mau trato. Às vezes nosso amor cristão é um verniz superficial que fica arranhado ao menor contato. Se o amor não for a meta da nossa vida, tudo o mais será em vão. Jesus nunca nos proporia um modo de ser e de viver que nos fosse, humanamente, impossível; ou que não nos realizasse como pessoas. Se Ele nos convida a dar a outra face, é porque é o melhor para nós. Existem atitudes que não são fáceis de teorizar, mas são, extremamente, compreendidas quando colocadas em prática. Aí diremos: então foi isso que Jesus queira dizer... agora eu entendo!

Dar a outra face não pode ser um ato de covardia, nem de medo. Não foi isso que Jesus quis ensinar. Dar a outra face é perceber o outro para além de sua agressividade e violência. Descobrir os motivos do outro para tanta truculência, sua feridas interiores. Amadurecer a personalidade, as emoções, o conceito de si próprio, são largas vantagens de quem se aventura na desventura de dar a outra face. Por fim, uma última palavra sobre o tema: e quando somos nós quem desferimos o tapa no rosto do outro, a famosa bofetada? Como nos sentimos depois do golpe? Lembremo-nos: toda bofetada, todo tapa, toda agressividade de que sou causador, só nos faz perceber como somos fracos e covardes. Ajude-nos a intercessão de São Francisco de Assis, que no poema atribuído à sua autoria, dizia: amar que ser amado, pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado.

Um comentário:

  1. Jesus havia dado o maior exemplo para a humanidade quando nos proporcionou esta parábola. Quando nos deparamos -hoje- com aquele questionamento geral de que o respeito é condicionado, acabamos tendo que admitir que só respeitaremos alguém por duas formas aparentes: admiração e/ou medo.Jesus nos deu a terceira opção a de respeitar antes e depois da bofetada, ou seja, sempre!

    Se pegarmos como objeto de interpretação, o respeito, veremos que Jesus deixa claro para nós que o respeito vem antes, depois e até mesmo com segunda bofetada. Ele simplesmente existe na alma humana, não importa o que aconteça. O corpo, a carne, o sangue está louca por revidar ou vingar-se mas a alma não.

    arivelho@ig.com.br

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