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domingo, 23 de outubro de 2011

Reflexão da liturgia domincal - Sobre o amor ao próximo

Ágape

Frei Mário Sérgio, ofmcap

A língua portuguesa traz algumas dificuldades para a compreensão de certas passagens bíblicas. Embora sejamos a língua dos adjetivos e sinônimos e antônimos, e isso complica a vida dos estrangeiros que a estuda, aos autóctones, nem se fala. Assim, o Evangelho de hoje, 30º do tempo comum, traz uma assertiva do Mestre da qual ninguém pode escapar de sua vivência, sob pena de não ser considerado cristão: o amor a Deus e ao próximo.

É aqui que a língua trava: na palavra amor. Usamo-la para tudo, quer sejam objetos, pessoas, sentimentos, afetos, na sexualidade também. “Eu te amo” é uma expressão que todos duvidam quando a ouvem, direcionada a si, por outrem. Sempre brincamos: hum, sei não! O verbo amar é muito desgastado porque usamos para inúmeras situações: amamos o cachorro, o carro, a casa, alguém, aos pais, aos amigos, e a lista não pararia.

Jesus, hoje, nos diz: “Amarás o Senhor teu Deus...” e depois diz: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,37-38). De que amor Jesus está falando? Percebe, em português não quer dizer muita coisa! O grego tem 3 palavras para significar amor: ágape, Eros e filia. São formas distintas de amar. Eros é o amor entre os diferentes, o amor do desejo, da pulsão de vida, o amor da sexualidade, que faz a energia do corpo circular, que une o homem à mulher. Sem o Eros, ficamos depressivos! Filia é o amor entre os pares, entre iguais, é o amor fraterno. É o amor que ama porque gosta, simplesmente! Amor de afeição, porque o outro me faz bem, sua presença alimenta meu espírito. Ágape é o amor sublime por excelência, é o amor divinal, é o amor do compromisso, é a forma de Deus amar a humanidade. Por isso, a eucaristia, nos primórdios, era chamada de ágape fraterno. Esse amor dispensa afeição, dispensa desejo, dispensa reciprocidade, dispensa tudo porque ama pela consciência de se é vocacionado para amar e se eu não amar eu me desumanizo.

Vamos ao grego! Qual é a forma de amor a que Jesus se refere nesse texto bíblico de hoje? Sem dúvida alguma: ágape! Segue o original: “O DE EPHÊ AUTÔ AGAPÊSEIS KURION TON THEON SOU EN OLÊ TÊ KARDIA SOU KAI EN OLÊ TÊ PSUKHÊ SOU KAI EN OLÊ TÊ DIANOIA SOU” (Mt 22,37). Viu, ele usou ágape! Depois, ele se dirige ao segundo mandamento: DEUTERA DE OMOIA AUTÊ AGAPÊSEIS TON PLÊSION SOU ÔS SEAUTON (Mt 22,39).

De posse dessa informação lexical, nosso compromisso aumenta mais ainda. Jesus não pede para ninguém sentir desejo pelo outro (Eros), nem se sentir amigo do próximo (filia), mas nos exige que o enxerguemos como Filho de Deus, que precisa da nossa ajuda, do nosso testemunho, de nossa vida doada. É para amá-lo independente do que o outro represente para mim. Ágape é o grande desafio de ser cristão! É a forma de amar que mais me aproxima de Deus, porque é amar por amar, sem nada exigir, sem olhar cor, etnia, condição social, religião.

Por isso, falei que nossa língua, nesse sentido, não nos ajuda a entender o texto bíblico. Espero que essa reflexão tenha lhe ajudado a entender a exegese de hoje. Um forte “ágape” para todos!

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