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FOTOS QUE EVANGELIZAM

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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

QUARTA-FEIRA DE CINZAS


Frei Mário Sérgio, ofmcap

Como não tornar os momentos fortes da nossa fé, em meras repetições? Gestuais sem sentido, sem conexão com a vida que se vive? Que reflexão propor que ainda ninguém tenha falado, escrito, pregado? As redes sociais não se cansam de anunciar que estamos no tempo de quaresma, portanto, de conversão, de mudança, de transformação. Mas, qual o efeito de tudo isso na vivência da fé cristã?

As leituras desta quarta-feira de cinzas apontam para um mesmo caminho: as práticas silenciosas da piedade cristã. Ora, pensar em silêncio quando o mundo só pensar em publicar? No mundo do marketing, das técnicas de melhor aproveitamento das redes sociais para vender um produto, tem sentido esconder as coisas da fé? Então, de qual escondimento fala a Sagrada Escritura?

Na primeira leitura (Joel 2.12-18) surge o primeiro escondimento: “rasgai o coração, e não as vestes, e voltai para o Senhor, vosso Deus” (v.13). O perigo de associar a prática religiosa ao espetáculo sempre foi uma tentação presente na Bíblia. O ato que querer aparecer como alguém de piedade, de devoção, de contrição, assim, gozando de um prestígio junto à comunidade, pode tornar a religião, apenas, um ato social que não muda nada, nem ninguém, apenas servindo de controle social. É uma religião, sem dúvida alguma, vazia, estéril, sem frutos. Por isso, o apelo para rasgar o coração (interioridade) e não as vestes (exterioridade), expressa o desejo de Deus para os crentes: mudança interior, sincera, verdadeira, maturada e profunda.

No salmo, aparece outro escondimento: “O meu pecado está sempre à minha frente” (50(51), 2). Importante nunca perder a dimensão do pecado em nossas vidas. Ter o pecado à frente, não é viver um eterno complexo de culpa, até porque a culpa teológica não é culpa psicológica. Culpa teológica é consciência do bem que deveria fazer e não se fez. Culpa psicológica é uma sensação angustiante de uma consciência de um erro, que pode ser real ou virtual. Num mundo onde a noção de pecado se perde a cada dia, as barbáries se tornam mais assustadoras, o individualismo gritante cresce, o secularismo se esparrama, e toda sorte de maldades tomam conta da sociedade. Sem noção de pecado, posso fazer o que quero, mesmo que isso implique a destruição de si mesmo, do mundo, do outro.

O Evangelho (Mateus 6,1-6.16-18) traz três atitudes/práticas que alicerçam a vida do crente em Deus porque todas exigem uma saída de si em direção ao outro. Porém, o próprio Jesus exorta ao escondimento de suas práticas. Exorta ao silêncio que deve acompanhar cada uma delas. A esmola deve ser dada sem tocar a trombeta; a oração deve ser feita no silêncio do quarto; e o jejum deve ser feito com cabeça lavada num cheiroso perfume. A esmola não é para o meu engrandecimento, a oração não é para a minha vaidade e o jejum não é para minha soberba. É interessante a linha tênue entre o bem que se deve fazer e o mal que se faz ou que aparece travestido de boas intenções.

Jesus sempre se preocupou com a intenção do coração humano. A religião não pode servir de canal para o extravasamento das vaidades, das soberbas, do engrandecimento de si próprio, da auto-incensação e toda sorte de outros venenos. Religião é para humanizar a pessoa. Por isso, o melhor exercício de humanização que a religião apregoa é o cuidado concreto com o outro, seja ele quem for e em qual situação estiver. É um exercício constante do Bom Samaritanismo! Assim, o Evangelho nos aponta três caminhos: esmola, oração e jejum.

A segunda leitura (II Coríntios 5,20-6,2) é sempre a experiência das comunidades da riqueza do antigo testamento, com o novo trazido por Jesus. O convite que Paulo faz aos Coríntios é: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (v.20). Reconciliar? Sim! O pecado, isto é, a falta de amor, afasta a pessoa de Deus, não Deus da pessoa, que isso fique bem claro! Reconciliar é voltar à amizade com Deus! Paulo continua, “não recebam em vão a graça de Deus” (6,1). O caminho quaresmal é um convite aos peregrinos de ontem e de hoje: pela esmola, pelo jejum e pela oração, construiremos uma relação mais profunda com Deus e transformaremos as relações interpessoais.

Não podemos ficar protelando nossas atitudes, nossas mudanças. As cinzas de hoje nos lembram da vulnerabilidade da nossa vida. Não temos todo o tempo que pensamos que teremos. É a grande ilusão do ser humano: achar que terá tempo para tudo e não se preocupar em fazer o bem que se deve fazer. Por isso, São Paulo exorta: “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (6,2). A quaresma só está no início. Vamos aproveitar esse tempo favorável para uma mudança interior, silenciosa, discreta, mas que tenha reflexos claros na vida dos mais necessitados e na comunidade de fé, transformando a mundo numa espaço de uma saudável convivialidade. 

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LEITURAS:
  1. Primeira leitura - Jl 2,12-18
  2. Segunda leitura - 2Cor 5,20-6,2
  3. Salmo - Sl 50
  4. Evangelho - Mt 6,1-6.16-18

Um comentário:

  1. Boa tarde!
    Texto muito interessante e reflexivo, Parabéns frei.

    ... “ A quaresma só está no início. Vamos aproveitar esse tempo favorável para uma mudança interior, silenciosa, discreta, mas que tenha reflexos claros na vida dos mais necessitados e na comunidade de fé, transformando a mundo numa espaço de uma saudável convivialidade.como abrir uma empresa"

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