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FOTOS QUE EVANGELIZAM

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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

QUARTA-FEIRA DE CINZAS: Eu sou pó

Frei Mário Sérgio

O avanço da tecnologia traz, no seu bojo, alguns desafios, dentre eles, o da privacidade. O sacrossanto direito de cultivar o anonimato. Câmeras nos vigiam em todos os cantos e recantos da cidade; satélites fotografando, a todo instante, a vida terrena; o GPS para localizar tudo e todos; o celular que não nos dá sossego; o email que recebo sem controle algum da minha parte, enfim, já somos dependentes de toda essa parafernália comunicacional. No mundo, onde as máquinas me dizem que eu sou e o que possuo, posso correr o risco de esquecer-me, verdadeiramente, quem sou eu para além dessa materialidade toda que me circunda. 

A Igreja, ao longo dos milênios, tem sempre se esforçado para não deixar o homem e a mulher se perderem de si mesmos. Perderem suas identidades e seus pontos de referências. Uma das formas da igreja trazer à memória quem somos é através da quarta-feira de cinzas. Pode parecer estranho, mas é pura verdade. Pó, é isso que somos! Barro amassado, modelado e soprado o hálito da vida. Traduzindo, somos criaturas e não criadores. Quando caímos na tentação de inverter os papéis da criação, deixamos de ser pessoa. O pó, as cinzas, vem sempre me apontar à condição de limite a que estou submetido e, pela graça de Deus, a capacidade de superá-lo. 

Não por acaso, a celebração das cinzas abre o tempo quaresmal. Nesse longo retiro espiritual, a igreja nos convida a exercitar o amor ao próximo. O tripé da penitência quaresmal: jejum, oração e caridade (esmola), só servem se me fizerem amar mais. Um amor gratuito, solidário, que não exige nada em troca. Amar porque amar é a minha realização e minha vocação de criaturalidade. Se não amo, me descaracterizo! As cinzas me ajudam a passar da morte para a vida. É um grande apelo à conversão. A morte do meu individualismo, do meu egoísmo, da minha falta de solidariedade, das minhas vaidades e mesquinhez para uma vida de fraternidade verdadeiramente. 

Nas leituras proclamadas na liturgia da quaresma, o livro de Joel diz que o Senhor quer que rasguemos os nossos corações e não as nossas vestes (Jl 2, 13). A minha mudança deve começar no meu interior, não nos aspectos externos da minha vida. É uma conversão profunda, sincera, doída, mas verdadeira. Rasgar o coração é um processo dolorido de crescimento humano-espiritual, mas extremamente necessário. O Salmo 50 nos dá uma dica que como sermos melhores: colocar nosso pecado sempre à nossa frente. È preciso tomar consciência de quem somos. Mas, não somos, apenas, pecado. Somos, sobretudo, graça. Em mim moram a graça e o pecado. Eu escolho dos dois quem deve aparecer mais. Na segunda leitura, uma verdade belíssima proclamada por São Paulo na II carta aos Coríntios: é agora o momento favorável, é agora o dia da salvação (2 Cor 6, 2). Nessa quaresma, que iniciamos hoje na quarta-feira de cinzas, somos convidados a caminhar no deserto com Jesus. Deserto é lugar de desafio, de ausências, provações, de sede. Mas, pode se tornar o lugar da minha mudança de vida. Boa caminhada, boa mudança de rumos e de metas.

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  1. Primeira leitura - Jl 2,12-18
  2. Segunda leitura - 2Cor 5,20 –6,2
  3. Salmo - Sl 50
  4. Evangelho - Mt 6,1-6.16-18

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