INSISTIR OU DESISTIR?
É verdade: podemos insistir ou desistir. Quando desistimos abandonamos compromissos e largamos as decisões. Ao insistirmos, perseveramos na busca de metas e realizações.
Há desistências que são legítimas. São salutares. Desistir de erros e crimes faz bem para a saúde do corpo e da alma. Quando se abandona um projeto, que antes mesmo de sua conclusão se revela totalmente improdutivo, é bom senso. Há desistências que são forçadas pela impossibilidade ou por obstáculos intransponíveis. Mas, há também desistências que são totalmente nocivas para a pessoa. Quando se desiste por fuga, é escapismo. Quando o medo faz desistir, é retroceder diante da oportunidade. Desistir por neutralidade (ficar em cima do muro) é querer ter a pretensão de agradar a todos. O desistir cúmplice abandona o caminho ético para fazer parcerias com tramas altamente perversas.
Às vezes, se crê mais nas forças de desistência do que nas de insistência. Basta um tropeço, que uma desistência ganha espaço. Contudo, é necessário superar o hábito de desistir. O comodismo, a indiferença, a evasão marcam muitas desistências no cotidiano de nossas vidas. Desistir antes da hora pode se tornar uma doença. Muitos são aqueles que desistem, não porque não têm capacidade, mas por não darem crédito às suas qualidades. Desistir é fechar os olhos para as oportunidades.
Nos tempos líquidos em que vivemos, onde muitos vivem sob um relativismo escravizante que nivela tudo por baixo, se faz necessário insistir em tudo aquilo que garante maior humanidade à nossa vida e à vida de todas as pessoas. Insistir é sempre fecundo. A cultura do insistir deve superar a cultura do desistir. Se é mais fácil desistir, é verdade que é na insistência que se garantem soluções que precisamos para qualificar nossa vida. A vida é abortada quando desistimos de uma causa justa. É preciso, é urgente insistir na defesa da vida, na luta pela justiça, pela igualdade, pela erradicação da pobreza, pelos direitos fundamentais, pelas corretas relações, pela dignidade humana. Insistir naquilo que humaniza, desistir das forças que desumanizam. Insistir por aquilo que nos enobrece, desistir de tudo o que nos empobrece.
Podemos pensar que só a resistência nos basta. A resistência pode ser um gesto de bravura, sem dúvida. Mas insistir é mais do que resistir. Insistir é avançar. É conquistar novas posições. É preciso balançar o mormaço da desistência. É preciso tomar uma decisão: desistir ou insistir? A partir da resposta dada, nossa vida vai sendo construída. É melhor avançar do que retroceder. É mais saudável estar aberto a possibilidades do que viver chorando os limites. É mais louvável insistir e ter a consciência de que se tentou fazer o melhor possível, do que lamentar as desistências e não ter histórias para contar.
Éderson Iarochevski
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