Festa no céu
Frei Mário Sérgio, ofmcap
A festa faz parte da antropologia cultural. Em todas as culturas de que se têm conhecimento, sabe-se que existe a dimensão do lúdico, da festa, da comemoração. Esse é um dado interessante, toda pessoa humana gosta de festa! Ela evoca alegria, amizade, agradecimento, reencontro, partilha e tantos outros sentimentos bons. Triste daquele que não gosta de festas! É bonita e significativa uma expressão do nosso povo: fulano quando me vê faz festa! Isso é lindo. É a manifestação pela presença simples e salutar, do outro, em minha vida, por isso, festa. Entendeu? Fazer festa não significa, tão somente, dar banquete, mas abrir um lindo sorriso pelo fato de acordar, de ter família, de ser de Deus, de encontrar a quem amamos, de descobrir novas pessoas, de poder ajudar alguém, de saber que alguém cuida de nós.
O segredo da vida consiste em descobrir motivos de festas em coisas simples. Aliás, Deus é muito simples, isto é, sem dobras, sem voltas, como sugere a origem da palavra simples. A questão é: por que complicamos a vida? Por que somos tão amargos, azedos, estressados? Por que feriamos a quem amamos, muitas vezes, sem motivos aparentes? Por que insistimos em não dirigir a palavra ao parente, dentro de casa, no meu ambiente de trabalho? Por que cultivo essas inimizades, quando seria mais saudável conviver aceitando as diferenças e os diferentes? Penso que ainda não aprendemos a viver fazendo da vida uma grande festa!
Pensar a vida como festa, não seria uma fuga da realidade? Não seria um ópio? Não seria uma alienação? É, exatamente, essa mentalidade que atrapalha a festa da vida. Fazer da vida uma festa é compreendê-la para além dos nossos sofrimentos, angústias e depressões. É aceitá-la como um dom! É fazer ecoar uma belíssima verdade bíblica: por tudo, demos graças a Deus! Nenhum sobressalto pode me fazer perder o sentido da vida. Nenhuma dificuldade pode me fazer desistir de viver! Nenhum sofrimento pode me roubar a esperança! Nenhuma lágrima pode ofuscar o brilho de novas possibilidades. Por isso, cantava, sabiamente, Gonzaguinha: “(...) Eu sei que a vida podia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita!”.
Mas, quis falar sobre a festa da vida porque o evangelho de hoje (Lc 15, 1-10) nos fala de uma verdade que demonstra a plenitude da misericórdia de Deus: “há mais festa no céu quando um pecador muda de vida, do que por 99 justos que não precisam de conversão”. Onde está a beleza dessa palavra? É simples: Deus nos quer, para Ele, independente do que somos ou do que fizemos; se estamos limpos ou sujos, santos ou pecadores, próximos ou distantes Dele. Simplesmente, Ele nos quer! Nunca irá desistir de nós! Como o pastor busca, incansavelmente, sua ovelha, ou como a senhora busca, avidamente, sua moeda perdida, Deus vai ao encontro da pessoa humana para dizer: filho, eu te amo com amor incondicional. Você é meu!
Assim, espero que a nossa mudança de vida, para bem melhor do que já é, possa ser motivo de muita festa no céu! Mudemos, sejamos mais simples, mais humildes, mais gentis, mais dialogáveis, mais humanizados e humanizadores. Você nasceu para dar certo, você nasceu para ser feliz! Sejamos felizes!!!
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