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FOTOS QUE EVANGELIZAM

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SEMANA DA FAMÍLIA 2014

sábado, 27 de agosto de 2011

Resumo da minha homilia na cidade de Seabra/BA (27/08/11)


A alegria do encontro com a pessoa do Bom Jesus
Frei Mário Sérgio, ofmcap
Quero destacar deste tema da festa do Bom Jesus de Seabra 3 importantes palavras: alegria, encontro e pessoa. Encontrar uma pessoa que amamos é sempre uma alegria muito grande. Nesse caso, o encontro é com a pessoa do próprio Jesus. Lembra-nos Santo Agostinho que ninguém encontra a Deus sem que antes Deus não o tivesse encontrado. A iniciativa do encontro é sempre divina. A resposta é sempre humana.

Percorrendo o itinerário catequético de Jesus, suas andanças, os lugares onde Ele evangelizou, podemos concluir uma coisa interessante: todos que tiveram a graça de encontrá-Lo pessoalmente mudaram de vida. Era profundamente impactante o encontro com Jesus. Era um olhar acolhedor e cheio de perguntas ao mesmo tempo; eram mãos que tocavam e curavam; braços que levantavam caídos, palavras de vida eterna. Como não se deixar envolver por tão grande amor?

Desde o seu nascimento, Jesus já mudava a vida de que se encontrava com Ele. Assim, aconteceu com os reis magos, vindos do Oriente. Deveriam voltar para dizer a Herodes que encontraram o Messias, envolto em faixas. Mas, os magos voltaram por outro caminho. É, exatamente, essa a proposta: encontrar com Jesus para mudar de caminho.

Se a minha vida espiritual não me oferece respostas, nem muito menos sentido, preciso me perguntar se me encontrei com Jesus. Encontrar-se é muito mais profundo do que estar junto, estar perto ou no mesmo ambiente. Encontrar é deixar que a vida de Jesus se torne minha vida, deixar que a missão de Jesus se torne minha missão também. É a vida Dele na minha vida. Esse encontro deve me fazer uma pessoa nova, renovada e renovadora, isto é, que dê sentido à vida dos outros.

O encontro com Jesus deve me provocar para além do sentimentalismo. Essa atitude foi execrada por Jesus, que sempre dizia a quem recebia um milagre Dele: não diga nada disso a ninguém! Jesus sabia do risco do sentimentalismo, que é uma fuga da realidade. O que Jesus queria desses encontros é que nascessem discípulos missionários, homens e mulheres que entendessem que a partir daquele momento tinham uma grande missão pela frente: anunciar o reinado do Senhor.

Assim, podemos compreender o que seja a igreja: o lugar dos seguidores e seguidoras de Jesus. A igreja se torna o lugar da vivência profunda e transformadora do batismo. Se não temos a igreja dos sonhos de Jesus, é porque ainda não somos os discípulos verdadeiros Dele. Os desafios batem à porta, mas os seguidores de Jesus não podem desanimar, nem se desesperar. Pelo contrário, a confiança no Espírito Santo, o grande Dom que a igreja recebeu, é a certeza de que as dificuldades da missão nunca abaterão a igreja de Jesus.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Abertura do programa de rádio - segunda-feira das 16h às 17h - www.am840.com.br


Perdi a minha fé
Frei Mário Sérgio, ofmcap

            O tempo passa, as coisas evoluem, as pessoas mudam, as religiões correm atrás dos novos rumos da sociedade para estabelecer um diálogo sempre atual com os novos arranjos sociais e culturais. O mundo muda e não pergunta para a religião a opinião dela, muito menos pergunta a direção que deve tomar. Simplesmente, a sociedade se transforma. Como toda mudança, perde-se algo aqui, ganhe-se algo ali. Por isso, é muito comum uma pessoa fazer o desabafo de que perdeu a fé. 

            Perder a fé é algo mais complicado do que se pensa. Depois, a fé é um caminho sem retorno, só tem passagem de ida. Por isso, afirmo que ninguém perde a fé. Ora, e que nome podemos dar ao sentimento de vazio interior, da perda de confiança em Deus, do descrédito com o mundo, da falta de confiança nas pessoas? Dê-se o nome que quiser, menos de perda de fé. O que pode estar acontecendo comigo é me decepcionar com algo referente à religião; posso ter me ferido por alguma perda material ou de alguém que amo e quero culpados para isso, de modo particular, culpo a Deus; posso, ainda, perder o sentimento de religiosidade, que é uma herança cultural; posso entender que a religião cerceia a minha liberdade, o que me faz pensar que não ter uma fé seja o melhor caminho para mim; posso ter entrado na faculdade, aprofundado algum estudo e acreditar que a religião só fez mal à sociedade; posso ter lido algum filósofo ou cientista que me deixaram confuso. E tantas outras questões! 

            O que acontece com muita gente, quando diz que perdeu a fé, é não saber nomear objetivamente seu problema, seus dramas, seus questionamentos, suas angústias. Eu costumo pensar no ateísmo sob duas perspectivas: a intelectual e a afetiva. O ateu intelectual é coisa rara de se ver, porque ele tenta negar, racionalmente, a possibilidade da existência de um ser transcendente, absolutamente Outro. Esses ateus são raríssimos. O outro tipo, que é o mais comum, é o ateu (perda de fé) afetivo, isto é, fez uma experiência ferida de Deus ou de alguma religião e por isso diz que perdeu a fé. 

            Tem muita gente que se considera ateu só porque leu alguma teoria, algum livro, algum pensamento; ou porque abraçou uma ideologia, uma militância qualquer, um movimento seja ela qual for. É ateu por causa de um pensamento que não lhe pertence, mas apenas se identificou. Talvez não seja nem a sua profunda experiência com o sagrado, mas ele achou que seria moderno, “Cult”, libertário, reacionário, se considerar uma pessoa sem fé. Na verdade, quando temos a oportunidade de aprofundar um diálogo com esses pseudo-ateus, percebemos que eles são descrentes por questões afetivas e não intelectuais. 

            Muitas vezes, os filhos se dizem sem fé para afrontar a fé dos pais; os esposos se consideram sem fé para machucar o outro que é bem religioso; outras vezes, os jovens se dizem sem fé para serem aceitos em determinados grupos. Porém, quando a dor bate à porta, quando as decepções se tornam mais acentuadas, quando as perdas os machucam profundamente, a pequena fagulha da fé se acende dentro de cada ser humano. Muitos apagam essa chama, mesmo com a certeza de que ela se acendeu; outros aproveitam a oportunidade que a escola da vida lhes deu e aceitam que a fé pode ser um excelente caminho de crescimento, de aceitação de determinados dramas, de superação de tantos outros desafios e, o melhor de tudo, de que a fé é o combustível do bom viver.

domingo, 21 de agosto de 2011

Reflexão da liturgia domincal


Solenidade da Assunção de Nossa Senhora
Frei Mário Sérgio, ofmcap
            Celebrar uma festa mariana só tem sentido quando a compreendemos dentro do contexto do mistério do Cristo e da Igreja. Maria isolada, descontextualizada, independente, perda sua força e obscurece seu mistério. Mas, quando permitimos que Seu Filho a ilumine, então tudo assume um brilho novo. Assim, a Assunção de Nossa Senhora só tem sentido à luz da Ressurreição de Jesus. Foi para Jesus que “todas as coisas foram feitas e é Nele que todas as coisas subsistem” (Col 1,15-20). 

            Jesus é o primeiro a ressuscitar de entre os mortos. Experimentou a vida humana em todos os seus aspectos, exceto o pecado. Ao morrer, radicalizando sua humanidade, derrota o grande inimigo do ser humano: a morte. Não a morte física, biológica, que é condição inexorável de tudo quanto vive - conhecer a finitude espaço-temporal - mas aquilo que a teologia chama de morte segunda, isto é, a possibilidade de não restituir o ser originário de cada um, o que o torna pessoa única e singular aos olhos do Criador. 

            A morte de Jesus nos possibilitou acesso à fonte originária de nossa existência, que é Deus. Por isso, morrer e ir para o inferno é, exatamente, ausentar-se para sempre da face de Deus. O inferno, para alem de suas imagens aterrorizantes, é muito mais um modo de existir do que um lugar físico, com todos os tormentos imagináveis. Não, o inferno é saber, depois da morte, que Deus verdadeiramente existe e não poder jamais estar com Ele. Inferno é ausência perpétua de Deus.

            Agora sim, podemos compreender a solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Se Jesus venceu a morte e nos abriu o caminho da redenção, nada mais justo do que inaugurar essa nova condição do ser vivente com aquela que Deus preservou da mancha do pecado original: Maria de Nazaré. Quem não peca, não morre. Se a morte é o salário do pecado (Rm 6,23) e Maria foi preservada do pecado, ela não poderia morrer. Jesus morreu porque se fez pecado por nós e para acabar com a morte segunda, não a biológica. Portanto, Maria conheceu a morte natural, mas não a corrupção da morte, disso ela foi preservada e é esse mistério que celebramos hoje: sua subida para o céu. 

            Podemos guardar para a nossa vida, nossas vivências, nossa espiritualidade uma certeza: nosso lugar é o céu. Maria nos aponta para o Filho, e Ele nos conduz para a Casa do Pai. Maria foi a primeira, todos iremos também se a nossa conduta for digna do evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, hoje é dia de valorizar a pessoa humana, de valorizar o corpo humano como maravilhas e verdadeiras obras primas da criação. Hoje é a festa da alegria de ser gente, de ser pessoa, de ter um corpo. Deus nos salvará em nosso corpo. Cuidemos do corpo, lugar onde Deus quer habitar em nós, e cuidemos da vida como dom precioso do Nosso Deus.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Abertura do programa de rádio - segunda-feira das 16h às 17h - www.am840.com.br


CANSEI


Frei Mário Sérgio, ofmcap

            Parece que chega um momento da vida que a pessoa pára, olha para trás, começa a fazer uma análise da própria caminhada, seja ela qual for, e a única palavra que consegue traduzir o sentimento que vai invadindo e angustiando o coração é: cansei. O verbo cansar é próprio de quem se esforçou, de quem acreditou, de quem colocou a vida numa coisa, de quem não se acomodou. Existem duas compreensões do cansaço: a boa e a desafiadora. A boa é a conseqüência do trabalho, quando o corpo pede uma parada relaxante e revigorante – é a certeza da missão cumprida. A desafiadora é aquela que lhe faz desistir de lutar por um objetivo, seja pela demora, ou pelas barreiras, ou pela perda de fé. 

            Perceba que eu falei desafio, não usei a palavra ruim, porque problemas e dificuldades são desafios a serem superados. É assim que uma pessoa deve encarar a vida e suas durezas, como um desafio. Não importa quanto tempo você espera por algo, por um milagre, por uma cura, por uma libertação, por uma vida nova, por uma família melhor, por um casamento em paz, por uma fé mais forte; o que não podemos é desistir! A vida não foi feita para pessoas covardes, mas para desafiadores. Devo continuar caminhando, buscando, acreditando, sonhando e tentando realizar meus projetos, dos mais simples aos mais audaciosos. Mas, desistir, nunca.

            Jesus Cristo nunca deixou nenhum dos seus discípulos se acomodarem, pelo contrário, sempre os incentivou a desafiarem-se. Sabe por quê? Jesus sempre acredita na pessoa humana. Ele sabe, exatamente, das nossas capacidades e quer que nós a descubramos dentro do nosso interior. Ao mesmo tempo, Jesus sabe quando precisamos de colo e de carinho, de aconchego e de afago, por isso Ele disse: “Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei descanso” (Mt 11,28). Jesus é o nosso descanso. Precisamos procurá-Lo em nossos momentos de tristeza, de decepção, de barreiras, de sofrimento, enfim, de cansaços. Porém, nunca desistir de viver. 

            Uma situação que causa muito cansaço é pedir e rezar pela mudança de vida e de atitude de alguém: filhos nas drogas, na marginalidade, na bebedeira; esposos e esposas no adultério; parentes na depressão; comportamentos que ferem e machucam os outros; pessoas difíceis de convivência; pessoas com temperamentos destruidores; sei que a lista seria enorme que desafios a serem superados. Mas, queria dizer isso: nunca desista, facilmente, de quem você ama! Por mais que a mudança demore, não desista; por mais demorado que a cura pareça, não desista; por mais cansativa que seja esperar pela conversão da sua família, do seu casamento, não desista. E peça, todo dia, ao Senhor, que você não se canse! Deixo essa citação bíblica como palavra de encorajamento para sua vida: “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Rm 8,37).

domingo, 7 de agosto de 2011

REFLEXÃO DO 19º DOMINGO DO TEMPO COMUM


Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!


Frei Mário Sérgio, ofmcap

            A pergunta sobre o lugar de Deus ou onde estava em determinada situação ou, ainda, como perceber a ação de Deus hoje, na sociedade, na vida de cada um, no mundo como todo, não é nova, pelo contrário, vem desde o momento da criação. A busca por Deus é incessante e faz parte da antropologia humana. Neste domingo, duas teofanias (manifestações de Deus) irão nos ajudar a pensar o lugar e a presença de Deus no mundo criado: Elias e a tempestade no mar.

            O cenário do evangelho de hoje é bem significativo: o mar da Galiléia. Mas, o que vem antes de ir ao mar é importantíssimo: a multiplicação dos pães. Jesus acabara de realizar o milagre da partilha, da multiplicação dos pães, onde todos comeram, mais de cinco mil homens, sem contar crianças e mulheres, e sobraram vários cestos de pães. Aqui a tentação de um messianismo triunfalista, de atrair multidões, da fama e das glórias humanas. Jesus, totalmente, desprovido de vaidades, apenas consciente de sua missão, convoca os discípulos para atravessarem o mar, isto é, preserva os discípulos da vaidade, da perda do foco, da devoção das multidões e leva-os à compreensão exclusiva da missão de fazer o bem.

            Depois de despedir as multidões, Jesus manda os discípulos se adiantarem, entrando na barca e Ele retirou-se para orar. Grande lição de Jesus: somos operários da messe, por isso, nunca perder a consciência que fazemos a vontade do Pai. Jesus foi agradecer pelo dia, por ter cumprido a missão, por ter saciado a fome daquela multidão e, sobretudo, por ter glorificado o Pai dos céus.          

O mar era o habitat de vários discípulos de Jesus. Homens que viviam da prodigalidade do mar da Galiléia. Portanto, conhecedores daquela geografia, dos mistérios daquele mar, da força de suas ondas e de seus ventos. Mas, a barca onde estavam começa a ser agitada pelas ondas e pelos ventos contrários. A sensação é de medo, de pavor, de fragilidade, de morte. Sem Jesus na barca, é mais difícil superar as dificuldades do mar, isto é, dos problemas da vida e da missão. Mas, algo extraordinário estava acontecendo naquele momento: Jesus foi ao encontro dos discípulos caminhando sobre as águas. Eis a lição: só Jesus, Deus Conosco, é capaz de passar por cima de nossos problemas.

Outro risco que corremos, e os discípulos passaram por isso, é incapacidade de perceber que Jesus vem ao nosso encontro em nossos momentos de aflição, de desânimo, de perda de sentido da vida, de crises, e achamos que se trata de um fantasma, de um delírio, de uma assombração. A verdade é que Deus nunca abandonará seus filhos nas barcas da vida (sociedade gananciosa, famílias destruídas, comunidades de base, vida pessoal-emocional-relacional, grupos e movimentos, e outros) ao naufrágio. É preciso passar do medo para a fé. E, nos problemas e dificuldades, nunca duvidar da presença do Cristo a nos ajudar, a nos animar, a nos encorajar.

Essa barca é a imagem da Igreja. Os ventos contrários são as idéias, o secularismo, o ateísmo crescente, as perseguições, as revoltas pelos valores defendidos por ela, mas as portas do inferno não prevalecerão sobre ela. O Cristo é o grande timoneiro dessa embarcação. O mar pode agitar-se como for, mas o Cristo sempre vem em socorro da sua esposa, da sua comunidade, da sua Igreja. Não temos porque duvidar da santidade da Igreja do Senhor. Ela tem marcas e cicatrizes humanas, seu lado de pecado; mas, sua dimensão divina é muito maior.

Precisamos descobrir os sinais de Deus nessas situações. Por vezes, parece que Ele está ausente, mas está tão perto! Elias, na primeira leitura, ficou à espera de Deus e queria percebê-lo nos gritos e barulhos da natureza: vento impetuoso, terremoto, fogo. Deus não se confunde com a sua criatura. Muitas vezes, queremos ditar o modo de Deus chegar em nossas vidas, sem deixar que ele próprio se manifeste. A ansiedade de Elias era tamanha, que ele perdeu a graça da espera. Quando Elias aquietou o coração, deixou Deus ser Deus em sua vida, ele O percebeu no murmúrio de uma brisa suave. Deus lhe apareceu da maneira que Elias menos esperava, no silêncio que Elias não tinha feito até então.

Por fim, o salmista (Sl 84) pedia ao Senhor que lhe mostrasse Sua bondade e lhe concedesse a salvação. Esse belo hino é um convite a ouvir o que o Senhor nos que falar, é a paz que ele vai anunciar. Em meio às nossas tempestades, nossos medos e preocupações, só a presença de Jesus Cristo nos trará a verdadeira paz e a serenidade que  a nossa barca precisa (nosso coração, nossa família, nossa comunidade, nossa igreja). Deixemos o nosso medo de lado e caminhemos ao encontro do Senhor por cima do mar de nossos problemas. Nele, somos mais que vencedores! 

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  1. Primeira leitura - 1Rs 19,9a.11-13a
  2. Segunda leitura - Rm 9,1-5
  3. Salmo - Sl 84
  4. Evangelho - Mt 14,22-33

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Homenagem pelo dia dos Padres - 04 de agosto

Sou padre, e daí?

Eu nunca vi uma afirmação para assustar tanto algumas pessoas como essa: sim, sou padre! Meu Deus, tão novo, tão simpático, tão inteligente, tão normal, tão sem jeito, tão isso, tão aquilo. Isso quando não ressoa um estridente – “que desperdício!”. O que me desperta a atenção e acho curioso, é que o mundo caminha para uma diversidade em tantos campos, e as pessoas ainda se assustam com as opções alheias. 

O ser padre ainda se caracteriza uma denúncia de algo? Será? Fico me perguntando sempre sobre isso. O que o fato de ser padre causa espanto? Será que as pessoas acham a igreja uma instituição ultrapassada nos valores que defende? Então, como um jovem quer se filiar a ela? Será que é por causa do celibato, num mundo marcadamente erotizado e banalizador da sexualidade em suas amplas dimensões? Será que o jovem que assume o sacerdócio é um homem em rota de fuga, seja do mundo, de uma opção sexual, de uma busca de comodismo dentro das estruturas eclesiásticas? Será que pensam que o padre só quer explorar da igreja, estudar e depois cair fora e viver outras realidades? Como pode alguém querer ser padre em meio a tantos escândalos envolvendo sacerdotes pelo mundo afora? 

Mas, o sacerdócio e sua beleza, sua riqueza, sua profundidade, cabem nessas perguntas? Visões reducionistas sobre questões sérias mostram quão vazios vivem os nossos contemporâneos. Sobretudo, quando reduzem as opções dos outros às rasuras de seus pensamentos e teorias. Como o mundo secularizado quer apagar qualquer fagulha do sagrado, e o sacerdote representa esse sagrado encarnado em sua consagração, pronto, querem acabar com a figura do padre, pensando, assim, acabarem com o próprio Deus. Mas, o sacerdócio sobrevive bravamente a essas investidas. 

O que me desafia, quando penso no sacerdócio, é a necessidade e a demanda, as perguntas e os desafios, as exigências e as cobranças do povo em relação ao nosso ministério. Hoje, o povo quer ir atrás do padre que lhe agrada, que lhe fala ao coração, que lhe desperta emoções e sensações, que tem uma palavra inteligente para oferecer, que seja dinâmico, culto e respondedor de todas as inquietações das problemáticas atuais. É difícil encontrar um homem que se enquadre em todas essas exigências. Mesmo assim, o sacerdócio ainda sobrevive. 

A saída é nunca tirar os olhos de Jesus. Fixar o olhar Nele, em Suas palavras, em Seus gestos, em Suas atitudes. O padre precisa pedir, todo dia, a graça de ter “os mesmos sentimentos do Cristo Jesus” (Fl 2,5). Pedir a graça de nunca tirar os olhos das ovelhas do rebanho que o Senhor lhes confiou, porque a missão do Cristo é a mesma missão do sacerdote: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, a curar os quebrantados de coração e proclamar a liberdade aos cativos e dar-lhes o óleo da alegria em lugar do luto”. (Is 61, 1- 3). Ser padre é ter uma preocupação profunda e sincera pela pessoa humana. Compreender suas dores, curar suas feridas, dar o bálsamo da paz interior. Ser padre é atualizar, pela força e o caráter do sacramento, a vida de Jesus no mundo que se chama hoje. 

Eu sei que o mundo respeita um padre inteligente – afinal, saber é poder, já dizia Bacon; também sei que o mundo admira a coragem de um jovem de assumir esse estado de vida, embora não queira para si nem para os seus; sei que muitos outros acham que é uma perda de tempo tal vocação; sei de outros que nem querem saber de padres; mas, sobretudo, sei do bem que um homem que se consagra ao sacerdócio ministerial faz à humanidade. O padre é o homem do abraço acolhedor de Deus, do sorriso encorajador de Deus, da palavra certa na hora do jeito certo; é o homem da última porta que muitos batem nos desesperos e crises do viver e saem dali experimentando a misericórdia do abraço do Pai. O padre, por fim, nas palavras de Bento XVI, é o amor do Coração de Jesus. Por isso, sou padre, e daí?

Frei Mário Sérgio, ofmcap