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FOTOS QUE EVANGELIZAM

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SEMANA DA FAMÍLIA 2014

domingo, 22 de agosto de 2010

Reflexão do evangelho do 21º domingo do tempo comum (22/08/10)

Evangelho - Lc 13,22-30

Virão do oriente e do ocidente, e
tomarão lugar à mesa no Reino de Deus.

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 13,22-30
Naquele tempo:
22Jesus atravessava cidades e povoados,
ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém.
23Alguém lhe perguntou:
'Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?'
Jesus respondeu:
24'Fazei todo esforço possível
para entrar pela porta estreita.
Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar
e não conseguirão.
25Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a
porta, vós, do lado de fora,
começareis a bater, dizendo:
`Senhor, abre-nos a porta!'
Ele responderá: `Não sei de onde sois.'
26Então começareis a dizer:
`Nós comemos e bebemos diante de ti,
e tu ensinaste em nossas praças!'
27Ele, porém, responderá: `Não sei de onde sois.
Afastai-vos de mim
todos vós que praticais a injustiça!'
28Ali haverá choro e ranger de dentes,
quando virdes Abraão, Isaac e Jacó,
junto com todos os profetas no Reino de Deus,
e vós, porém, sendo lançados fora.
29Virão homens do oriente e do ocidente,
do norte e do sul,
e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus.
30E assim há últimos que serão primeiros,
e primeiros que serão últimos.'
Palavra da Salvação.


A porta é estreita

Frei Mário Sérgio, ofmcap

Vivemos procurando, incansavelmente, seguranças. É-nos, insuportável, saber que não temos portos seguros. Buscamos segurança financeira, emocional, profissional, familiar e a lista seria interminável. Dentre todas essas certezas, procuramos a segurança espiritual. A pergunta é: será que ganharei a vida eterna? O dízimo que devolvo, a oferta que dou, as celebrações que participo, os terços que eu rezo, o escapulário que carrego em meu peito, a cruz que me acompanha sempre como sinal de pertença, será que me garantirão a vida eterna? Esses exemplos, apenas, para ficar no universo católico. É a minha pertença a uma instituição religiosa que me garante o céu? Daí, o grande questionamento da liturgia deste vigésimo primeiro domingo do tempo comum: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?”.

Nas escolas rabínicas, os judeus já se interrogavam acerca da salvação. Quem se salvaria? Apenas os judeus ou outros povos também herdariam a salvação? Qual é o critério da salvação? Apenas a pertença a um povo? Esses questionamentos permeavam a cabeça dos discípulos certamente. Assim, inquirindo a Jesus, puderam ouvir do próprio Filho de Deus, que a salvação é universal, aberta a todo homem e a toda mulher que, pela adesão ao Cristo, dispuserem-se a fazer o caminho do discipulado. Igualmente, ainda existem outros caminhos pelos quais Deus salvará de que não somos conhecedores.

O convite, portanto, é passar pela porta estreita. Muito mais do que um moralismo alienante, essa porta é um compromisso de fidelidade e de amor a Deus e ao próximo. Por isso, é porta estreita! Exige que saiamos de nós mesmos, que estendamos a mão ao necessitado, que cuidemo-nos uns dos outros com zelo e dedicação; que busquemos uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais igualitária. Mas, se vivemos no nosso apequenado mundo egoísta e individualista, onde eu tenho tudo e outro não me importa, podemos ser fiéis religiosos, ardorosos e dedicados seguidores de regras da igreja, mas estamos longo do verdadeiro evangelho. E, muito mais longe ainda da porta estreita... Não podemos reduzir a vida cristã a umas práticas rituais em vias de extinção ou a meia dúzia de proibições moralistas. O cristianismo é o seguimento de uma pessoa: Jesus de Nazaré.

Jesus não diz que se salvarão muitos ou poucos. Para não criar seguranças presumidas a uns e frustrações antecipadas a outros. Também não diz quando vai fechar a porta. Diz, apenas, que essa porta existe e um dia se fechará, e que é estreita. O Senhor se deixa encontrar por todos os que o procuram de coração sincero. Que ninguém caia na presunção de se achar salvo. Como também não caia na tentação de condenar alguém. Os pensamentos do Senhor não são os nossos pensamentos. O importante é saber que estamos no caminho certo, da porta estreita, da fidelidade e do compromisso com reinado de Deus, que já é verdade em nosso meio, mas que pela dureza de tantos corações, inclusive o nosso, esse reinado ainda não se pode perceber concretamente. Ainda existe muita fome, muita exclusão, muita miséria, muita guerra, muito sofrimento, muito ódio, muita perdição.

É na prática a justiça, como nos lembra a primeira leitura, que podemos estabelecer as raízes do reino. E o salmo nos lembra que a salvação é para todos os povos que conhecerem o santo evangelho. E a segunda leitura é uma admoestação a nunca abandonar o caminho da porta estreita. Deus nos corrige porque quer o nosso bem e a nossa salvação.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

ABERTURA DO PROGRAMA DE RÁDIO - QUINTA às 16h - www.am840.com.br

NADA TE PERTURBE

Frei Mário Sérgio, ofmcap

“Nada te perturbe. Nada te espante. Tudo passa! Só Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem a Deus, nada lhe falta. Só Deus basta”. (Santa Tereza de Ávila)

Santa Tereza de Ávila é de um talento incrível para poesia. Quando a insuficiência da palavra tomava conta do seu inquieto coração, brotava a poesia. Verdadeiros hinos espirituais, frutos de uma perfeita união com Deus. A poesia acima é longa, mas a parte que coloquei é a mais conhecida. É um texto de alguém maduro na caminhada de fé, na experiência de Deus, na vida mística. Muito nos ensina essa poesia.

NADA TE PERTURBE. Perdemos a paz com muita facilidade, por qualquer coisa. Recuperar a paz interior é um caminho dolorido. Por isso, a importância de viver a serenidade. Exercitar o coração, os sentimentos, as emoções para não se perturbar. Uma vida muita agitada, muito estressante, só nos causa sofrimento e dor. É prejudicial à saúde e à vida espiritual. Lembrar de Jesus na casa de Marta e Maria. Disse Jesus: “Marta, tu te inquietas com muitas coisas, uma só lhe é necessária. Maria escolheu a melhor parte!”.

NADA TE ESPANTE. Somos tão frágeis em nossa fé que com tudo vacilamos, chateamo-nos, queremos desistir de Deus. É uma fé como bolha de sabão, logo estoura e perde-se no ar. O pecado do outro não pode se colocar como um obstáculo à minha vivência de Deus. O erro do outro não pode me fazer desistir da caminhada. São Francisco dizia aos seus confrades: nunca se escandalize com o pecado do irmão, porque somos capazes de um pecado maior do que o que ele cometeu. Como essa frase é verdadeira! Enquanto houver vida, ali existe possibilidade de pecado, de fragilidades, de desacertos. O outro não nos decepciona, na verdade colocamos muitas expectativas nele.

TUDO PASSA! Isso é um convite a esperar as demoras de Deus em nossas vidas. O maior sofrimento, a maior dor, o pior tormento... Um dia passa! É um abandono na Providência Divina. Tudo é Dele, na hora certa Ele alivia o peso da nossa cruz. Quando menos esperamos, Deus toma nossos fardos e nossos cansaços e nos alivia, revigora-nos. Essa é uma verdade que precisa estar em nossos corações e em nossos lábios diante das dificuldades da vida: tudo passa.

SÓ DEUS NÃO MUDA. Mudar é próprio de quem ainda não é, de quem está se construindo, tentando acertar. Deus É! Suas propriedades são imutáveis: onipresença, onisciência, onipotência. Está em todo lugar, tudo sabe e tudo pode! O que mais nos conforta nisso tudo é saber que Deus é AMOR. Nunca deixará de sê-lo. É um oceano de acolhimento, de misericórdia e de bênçãos. Quando pensamos que Deus mudou em relação a nós, na verdade nós quem mudamos em relação a ele. Deus sempre acredita em nós. Nós temos a tentação de duvidar Dele, por isso sofremos amargamente.

A PACIÊNCIA TUDO ALCANÇA. No mundo da correria, do estresse, da violência, da falta de oportunidades, do individualismo e tanto outros males, como é difícil cultivar a paciência. Todo mundo reclama da impaciência. Não queremos ouvir ninguém, não temos tempo para nada, não sabemos esperar. Por isso, sofremos os males da vida louca que levamos: hipertensão, depressão, enxaquecas, esgotamento geral, e tantas outras coisas. A palavra é homeostasia (equilíbrio). Precisamos encontrar mecanismos que regulem e equilibrem nossa vida. Cuidar da ecologia interior. O estresse é um assassino silencioso e nosso estilo de vida pode nos matar. Por isso, a importância de reservar um tempo para a espiritualidade: rezar, meditar, ouvir uma boa música, fazer uma boa leitura, praticar exercícios, assistir a um bom filme, contemplar a natureza, estar com o outro, com quem amamos. Quanto tempo você não faz isso? Quem vive, exclusivamente, para o trabalho, acumulará dinheiro para gastar com as doenças que virão depois. Isso é vida?

QUEM TEM A DEUS NADA LHE FALTA. SÓ DEUS BASTA. E o poema de Santa Tereza vai chegando ao final (apenas dessa parte escolhida). A santa nos dirá o segredo do bem viver: só Deus basta! Corremos atrás de tantas coisas que passam, que às vezes nos machucam e nos ferem, querendo acumular tesouros que as traças corroem e que não levamos conosco. Perdemos a paz interior e nos desequilibramos. Vivemos sem qualidade, sem saúde e sem muita alegria. Só Deus basta! E, o poema original finaliza de uma maneira profunda e é a síntese da nossa reflexão: “Mas não há amor fino sem a paciência. Confiança e fé viva, mantenha a alma, Que quem crê e espera tudo alcança. Do inferno acossado Muito embora se veja, Burlará os seus furores Quem a Deus tem. Advenham-lhe desamparos, Cruzes, desgraças; Sendo Deus o seu tesouro, Nada lhe falta. Ide, pois, bens do mundo, Ide, ditas vãs; Ainda que tudo perca, Só Deus basta”.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

ABERTURA DO PROGRAMA DE RÁDIO - QUINTA às 16h - www.am840.com.br

Perdão: eu posso!

Frei Mário Sérgio, ofmcap

Hoje eu faria de uma forma diferente! Quem nunca se pegou pensando assim? Nem sempre agimos como gostaríamos. Excedemo-nos, machucamos, magoamos, ferimos. Foi uma palavra dura, dita na hora errada, do jeito errado; foi um gesto grosseiro que feriu o outro; uma calúnia, uma difamação. Enfim, o impulso foi muito forte e rápido demais, levando-me a um processo que eu mesmo não quereria nunca na minha vida. E agora, como reconstruir a relação abalada? Só pela graça do perdão!

Quando amadurecemos, olhando para dentro de nós mesmos, num desejo profundo de crescer, aprendemos formas de viver concretas, e a experiência nos mostra, dia-a-dia, que sempre podemos voltar atrás, refazer o que fizemos de errado, recomeçar. Quem se apega àquilo que o faz sofrer, remoendo passados feridos, demorará a abrir-se ao processo necessário do perdão. O auto-conhecimento nos leva a ter mais autonomia em relação a nós mesmos. Quem não se esforça por conhecer-se, viverá à revelia de si mesmo. Então, acumulará mais sofrimento ainda. A falta perdão adoece, mata-nos aos poucos.

O remédio para fazer o perdão acontecer é o tempo. Deixar passar o tempo, que o tempo ajuda demais e faz esquecer. E quando o tempo teima em não cicatrizar as feridas? Significa que não estamos colaborando com o tempo. Passar o resto da vida arquitetando uma vingança é muito deprimente, ninguém merece. Sou forte quando consigo perdoar, não quando me vingo! Vingança é um instinto primitivo, sem reflexão, sem escuta, sem transformação nenhuma. Além disso, perdoar é como antitóxico: tira o veneno do organismo.

Muitas pessoas se preocupam com qualidade de vida: boa alimentação, prática de exercícios físicos, cultura, arte, boas leituras... Mas, esquecem-se do perdão. Somos seres integrados. Somos uma unidade psicossomática (corpo-alma-espírito), ou nos cuidamos como um todo, ou teremos terríveis lacunas em dimensões da nossa vida. Sem dúvida alguma que a falta de perdão causa um malefício estrondoso ao nosso equilíbrio humano.

Um entrave no processo do perdão é o esquecimento. Perdoamos, mas não esquecemos. Perdoar é mais fácil que esquecer... Quando pensamos que esquecemos, basta uma palavra, um gesto, ou coisa assim, e tudo volta rapidamente à nossa mente. É tão rápido que nem percebemos direito. É o jogo das nossas paixões. O inconsciente guarda tudo. Porém, a cura está na capacidade de ressignificar: quando o sentimento volta, podemos dizer – “tudo bem, eu já perdoei” – e continuar o caminho da cura e da libertação, sem retroceder, sem ficar em círculos viciosos, que vão e vêm.

Em Jesus, uma das características fundamentais da revelação do amor de Deus é o perdão, fruto da misericórdia. Na antiga Lei predominava o revide à agressão e o extermínio do inimigo. A interrogação de Pedro a Jesus indica uma tolerância limitada à ofensa. A resposta de Jesus, com a figuração numérica de "setenta vezes sete", revela que o perdão não tem limites. Quem toma consciência de que recebeu o infinito perdão do Deus misericordioso deve perdoar sem limites.

Uma oração para nos ajudar a viver o perdão: Pai, predispõe meu coração para o perdão, e que eu esteja sempre disposto a perdoar e a querer viver reconciliado com meu semelhante.

domingo, 8 de agosto de 2010

19° DOMINGO DO TEMPO COMUM

Onde está o vosso tesouro, estará vosso coração!

Frei Mário Sérgio, ofmcap

Liberdade interior. Uso inteligente dos bens. Solidariedade com os mais necessitados. Coração totalmente voltado para Deus. São reflexões frutos da liturgia deste domingo. O apelo do santo evangelho é para que cada um possa encontrar, em Jesus Cristo, o grande tesouro da sua própria vida, relativizando tudo o mais. O tempo corre veloz e não podemos trilhar suas sendas com muitas coisas atrás de nós, com o acúmulo desumano, com bolsas enormes, cheias de nós mesmos e tantas outras futilidades. Como Maria, irmã de Marta, precisamos descobrir a melhor parte.

Notícia da semana: 40 bilionários do mundo doarão metade de suas fortunas para obras de caridade, num movimento encabeçado pelo co-fundador da Microsoft, Bill Gates, e pelo megainvestidor Warren Buffett. O que eles querem? Dividir as riquezas, aparecer, ajudar aos mais necessitados ou enriquecer mais ainda? Fato é que eles querem repensar suas fortunas. Seria a semente do evangelho, nascendo nesses corações, mesmo que eles não professem fé alguma? Num Brasil de lideranças corruptas, resguardando os honestos que existem em todos os setores, já tem gente sonhando em colocar a mão num pedacinho dessa dinheirama toda. Como vivem os funcionários desses ricaços? Será que partilham das riquezas dos seus patrões? Ganham bem, são valorizados? A partilha começa em casa!

O tema da riqueza que desumaniza é forte nas pregações de Jesus. Ele chama os ricos, que só pensam em acumular, de insensatos! O apelo de Jesus hoje é: fazer bolsas que não se estraguem. É outro modo de pensar a vida, mais humana, mais emocional, mais sensível, mais suave. Existem tesouros que a traça não é capaz de corroer: a amizade, o amor generoso, a alegria, a solidariedade e tantos outros. Uma pergunta não quer calar hoje: o que faz a existência humana valer a pena?

A mudança de vida, proposta por Jesus, só tem sentido se o coração humano cultivar a semente da fé. É ela quem dará a motivação espiritual para a conversão do modo de pensar e de agir. Assim, a primeira leitura (Sb 18, 6-9) narra a experiência da libertação do povo que era escravo no Egito e como Deus os libertou. A fé em Deus foi a única segurança daquele povo que acreditou que uma outra vida, livre, era possível e caminhou pelos árduos 40 anos na privação do deserto. Mesmo nos sofrimento, não perderam a fé, continuava entoando os louvores ao Senhor!

O tema da fé retorna na segunda leitura (Hb 11, 1-2.8-12). Começa com uma definição teológica: “a fé é um modo de possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se vêem”. Pela fé, Abraão parte rumo à terra prometida, à herança prometida por Deus e nunca duvidou da providência divina. A fé fez o povo de Deus superar todas as dificuldades que e encontraram pela caminhada. Nossa fé nos diz que acreditamos no Deus do impossível.

A todo instante, somos tentados a abandonar o evangelho e os ensinamentos de Jesus. Por isso, somos convidados à vigilância, em estado permanente de prontidão! O patrão pode voltar a qualquer instante e nos surpreender. Num mundo materialista, insensível, secularista, ateísta quem vivemos, precisamos da coragem de ser sal e luz. Mudar nossos ambientes pela força do nosso testemunho e de nossa adesão sincera ao Senhor Jesus. Qual é o tesouro de nossa vida? Jesus deixa bem claro: “Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”.


LEITURAS DO DOMINGO:
Ecl 1,2;2,21-23
Sl 89
Cl 3,1-5.9-11
Lc 12,13-21

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

DIA DOS FIÉIS DEFUNTOS

A VIDA CONTINUA

Frei Mário Sérgio, ofmcap

A dor de perder alguém que amamos é muito difícil de ser superada, de ser administrada, de ser ressignificada. Muitas pessoas morrem com aqueles seus parentes ou amigos que morreram. Perdem a alegria e a motivação para o próprio viver. Nesse sentido, a fé cristã é um caminho de integração dessas dimensões do existir. Aprendemos que a vida continua, mesmo depois da morte.

O luto causa uma dor uma dor terrível em que o sente. É a dor de amar. Em seu livro “A dor de amar”, o psicanalista J. D. Nasio dirá que a dor de amar é uma lesão do laço íntimo com o outro, uma dissociação brutal daquilo que é naturalmente chamado a viver junto. Assim, vamos compreendendo a dor que sentimos com a perda daqueles a quem amamos. Mas, essa dor não pode nos matar também. Quanto mais se ama, mais se sofre.

O luto não pode ser patológico, isto é, adoecer para sempre aquele que ficou vivo. Muitas pessoas convivem com a dor do ser amado há anos. Nunca cicatriza. Nunca supera. É tempo de voltar a viver. A palavra é “ressignificar” a presença do outro em mim. Quem morreu, vive de uma forma diferente em que ficou. Esse é o caminho saudável de superação da dor da morte. O que dói não é perder o ser amado, mas continuar a amá-lo mais do que nunca, mesmo sabendo-o irremediavelmente perdido.
Alguns pais que perderam seus filhos; alguns casais que ficaram viúvos; algum amigo que perdeu o amigo amado; às vezes esperam que um dia o outro que morreu entre pela porta de casa e volte ao convívio dos seus. Essa ilusão é a pior forma de superar o luto. Ficar de luto é aprender a amar de outra forma o morto, amá-lo sem o estímulo de sua presença viva.

Uma palavra do apóstolo Paulo aos Coríntios enche-nos de vida nova, de alegria e de alento: “O que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, isto Deus preparou para aqueles que o amam (1Cor 2,9)”. Paulo nos convida a pensar a vida a partir de Deus. Viver é um misto de certezas e incertezas; de ser e não-ser; de ir sem saber se volta; de dormir sem certeza do acordar; viver é experimentar a própria finitude. Se formos inculcar essas idéias, ficaremos loucos. Por isso, só Deus nos faz repousar tranqüilos. Nossa vida está nas mãos Dele. Ele cuida de nós. Sem a esperança em Deus, porém, as esperanças humanas se transformam em ídolos.

O Padre Marcos de Lima tem um belo poema sobre a esperança: “Peregrinos, não por evasão, mas por insatisfação; não por insensibilidade, mas por insaciabilidade. Toda terra estranha é para eles uma pátria e toda pátria lhes é uma terra estranha. Saborear o desassossego e o encanto das buscas. Não se cansar. A meta é o Pai. A casa própria não é aqui”. Supera o luto quem compreende a dimensão da vida eterna. Quanto mais mergulhamos em Deus, tanto mais aprenderemos a viver, experimentando a morte como uma páscoa, isto é, como uma passagem para a plenitude da vida.

Por fim, cuidar para que a perda de alguém que amamos não nos leve à depressão. Não podemos ficar obcecados por quem morreu; não precisamos ter raiva de quem morreu, como se ele tivesse nos abandonado; não precisamos alimentar sentimentos de culpa, achando que não fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para que ele sobrevivesse, mas abrir-se para novas possibilidades que a vida oferecerá. Com o passar do tempo, as pessoas em sofrimento, através da atenção e dos cuidados dos amigos, família e igreja, adaptam-se à perda e se recuperam sem a necessidade de um profissional de saúde mental. Nunca esquecer: a oração é um caminho seguro para nos ajudar a conviver com a perda de quem amamos.