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FOTOS QUE EVANGELIZAM

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SEMANA DA FAMÍLIA 2014

domingo, 30 de maio de 2010

CRIAÇÃO E PROVIDÊNCIA

Frei Mário Sérgio, capuchinho

Não seria o tema da criação e da providência de interesse da Teologia e não da Filosofia? Sendo a resposta de interesse, também, da Filosofia, o que é específico dessa disciplina em relação a esse tema? Outras questões são possíveis de serem feitas: a pessoa humana é a realidade suprema? Existe outra realidade, anterior à pessoa humana e ao nosso universo? O Deus das tradições religiosas pode ser descoberto pela nossa inteligência? Portanto, é legítimo à Filosofia se perguntar sobre essas realidades. Não se pode impor limites à inteligência, nem barreiras, nem credos, nem obstáculos. É próprio da inteligência inquirir, perscrutar. É a inteligência que leva o homem a Deus. Ela pode descobrir a verdade sobre Deus, o que não se pode é fixar limites à pesquisa filosófica.

O que havia antes da criação? É uma pergunta intrigante. Seria o nada? Não se pode imaginar o ser e o nada ao mesmo tempo: uma vez que prevaleça o ser, o nada é destruído. Como o ser foi criado, não podemos, todavia, conceber o nada enquanto aquilo que era antes da criação do ser? De fato, Deus é o criador do ser. Deveria, então, logicamente, ser também o criador do nada! Devemos reconhecer, antes, que o nada é algo simbólico; não passa de um produto da invenção do homem, ao tentar compreender a criação: antes do ser, não havia o “nada”; havia Deus, que tudo criou à Sua imagem e que não gerou senão seres. A própria idéia de criação exclui a idéia de nada: tudo o que foi criado é, em função da própria criação, um ser. Logo, o nada não pode nem “possuir um ser” nem “ser um ser”.

O homem é ao mesmo tempo finito e infinito, porque é humano e ser. O ser é sua essência, mas, como ser humano, está mergulhado na existência. Está submetido ao tempo enquanto existente e é imutável em sua essência. Este duplo destino, entretanto, está em suas mãos: o homem é livre. A liberdade, que o marca indelevelmente, transforma-o e o faz transmutar o mundo, ao qual sobrevive enquanto ser puro. Na busca do homem por seu ser, acaba também encontrando o verdadeiro Ser, o Infinito. Então, cabe uma pergunta: por que certas civilizações não conceberam a idéia de um Deus único e criador? Provavelmente porque a busca do ser não foi conduzida por meios adequados ou não foi levado por esse termo. Para compreender a nossa razão de ser, necessariamente cumpre entender o mistério da criação. O aparecimento do homem no mundo foi determinado por um ato da vontade imutável de Deus. Existe um vínculo estreito entre o Criador e a criatura.

A criação é incompreensível, mas não ininteligível. A criação, no sentido próprio da palavra, ultrapassa evidentemente o alcance de nossa inteligência, uma vez que se trata de uma atividade que é privilégio de Deus, enquanto exige um poder infinito. Mas a idéia de criação não é ininteligível, quer dizer, absurda. Ao contrário, a idéia de criação é, antes de tudo, inteligível por si mesma, uma vez que atribui a Deus a onipotência que pertence logicamente e necessariamente ao Ser perfeito e infinito, — ela é, por outro lado, fonte de inteligibilidade, uma vez que, por ela, o universo se explica ante a razão, a um tempo na sua existência e em suas propriedades. Inversamente, a negação da criação equivale a elevar o absurdo à lei universal. À razão, repugna este suicídio.

Tudo quanto dissemos até agora de Deus volta a afirmar a realidade da Providência divina, isto é, da ação que Deus exerce sobre a criatura para conservá-la e dirigi-la para seu fim com sabedoria e bondade, segundo a ordem que estabeleceu na criação. Deus, com efeito, é infinitamente sábio, e a sabedoria exige que Ele vele sobre o mundo que criou, para conduzi-lo ao fim que lhe determinou, — Deus é infinitamente bom, e sua bondade exige que ele estenda a proteção de seu amor sobre as criaturas que são o fruto do seu amor, — Deus é infinitamente poderoso, e seu poder quer que ele governe soberanamente a obra saída de suas mãos.

A Providência não pode de nenhuma forma ser concebida como uma ação caprichosa, que modificará arbitrariamente o curso das coisas. Deve ser interpretada como a ação de uma Vontade soberana e infinitamente sábia, conforme a natureza de cada criatura, e, por conseguinte, no homem, à liberdade: ação cuja essência é orientar o curso das coisas em busca do bem de todas as criaturas, como o definem sua posição e sua função no universo.

Uma questão que perpassa o tema da providência é o mal. Se Deus previu tudo, e se Ele conhece todos os limites da matéria, e a perfeição não gera, nem cria, imperfeição, então, qual a origem do mal? “Teria Deus podido criar um universo físico mais perfeito?”. A finalidade do universo é o homem, criatura que Deus quis por si mesma, por possuir um espírito. O homem é uma criatura espiritual. É a obra prima do Criador. E, ao criar, Deus concede ao homem a liberdade de amá-lo ou não; de adorá-lo ou não. Ele o deixa livre em suas escolhas. A liberdade, mesmo falível, é um bem. Não se pode recriminar a Deus por ter dado ao homem o bem perigoso de sua liberdade. É uma prerrogativa maravilhosa a de ser capaz de determinar-se, por sua própria escolha, conformar-se, por um ato de vontade livre, à ordem divina, colaborando, assim, de alguma forma, com a atividade criadora de Deus. Esta perfeição não é absoluta, uma vez que comporta falibilidade. Mas a justiça exige apenas que o homem seja senhor de sua vontade e de sua escolha, de tal forma que, errando, assuma sozinho a responsabilidade de sua falta e dos males que dele derivam. O mal nasce, portanto, do ato livre do homem que escolhe não amar.

Portanto, o conceito de criação, como uma das possíveis explicações da origem do mundo, constitui um ponto central de referência na história do pensamento.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

ABERTURA DO PROGRAMA DE RÁDIO: CHORO E ALEGRIA

Frei Mário Sérgio, ofmcap

O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer (Sl 30,6)

O salmista louva ao Senhor pela libertação, pela cura de uma doença que o deixara à beira da morte. É uma ação de graças depois do perigo. Deus está sempre conosco, em nossas dificuldades, em nossos tormentos, em nossas dores, em nossas noites de choro, de pranto, de lágrimas. O coração do crente não desanima nunca. Mesmo que a dor insista em não parar, o crente nunca deixa de crer. A fé, recorda-nos São Paulo, é o fundamento da esperança (Hb 11,1). Nesse caso, a esperança é a certeza da alegria que experimentaremos ao amanhecer. Mas, essa esperança só é possível pela fé em Deus. Choro e alegria, dois momentos importantes do equilíbrio humano. Choro em demasia é desespero; alegria em demasia é fuga. É sábio quem descobre no choro razões para sorrir.

Quem chora quer colo. O choro é o limite da força. Podemos ampliar a ideia de choro para além de lágrimas escorrendo na face. Chorar é perder o encanto com as coisas, é desanimar, é render-se ao fracasso, é sentar à beira do caminho sem coragem para continuar a caminhada, é pensar que chegou ao fundo do poço, é sentir-se a pior das pessoas. Noite é uma experiência da ausência de Deus. É quando nos sentimos sozinhos com nossos pensamentos, com nossas misérias, com nossos pecados. Noite é a secura espiritual. É a falta de brilho nos olhos. Noite é sentir um vazio profundo que nada é capaz de preencher. Noite é uma sensação de gritar com toda força da alma e saber que ninguém vai lhe escutar. Todos passamos por noites escuras em nossa caminhada espiritual, tendo o choro por companheiro. Para muitos, a noite é interminável, para outros a alegria logo desponta, depende de como cada um lida com esse momento no coração.

Jesus experimentou noites desafiadoras em sua caminhada. A noite do seu nascimento, quando ninguém quis hospedá-Lo (Lc 2,7); a noite da escolha dos doze (Lc 6,12); E, dentre outras tantas, a noite do monte das Oliveiras (Mc 14,32-40), onde Jesus suou gotas de sangue. A pior noite da vida do Mestre Jesus foi essa do Getsêmani. Na dor e na angústia, Jesus foi rezar. Precisava de respostas do Pai, do colo daquele Paizinho querido e amado. Sentia-se só, ferido e abandonado. E disse Jesus: “Minha alma está numa tristeza de morte” (v.34). A iminência da morte foi um tormento para Jesus. Que Deus maravilhosamente humano! Que solidariedade com a natureza humana naquilo que mais a atormenta: a certeza da finitude. Jesus pedia para o Pai afastar aquela hora, pois queria viver, ainda tinha muitos projetos pela frente, muitos sonhos para realizar, muito coração para fazer arder com sua palavra, muitas curas e milagres por fazer, o povo precisava Dele. Mas, o Mestre nos ensina, mais uma vez, “contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres!” (v.36). Abandonou-se, plenamente, nos braços e na vontade do Pai. Aí, sim, seu coração teve confiança e paz. Venceu aquela terrível noite e caminhou com fé e esperança para o dia da sua ressurreição (alegria plena). Quando queremos resolver nossas noites sem Deus, sempre nos ferimos ainda mais.

Não existe noite que possa impedir o nascer do sol. Aprendamos a confiar mais em Deus. Abandonemo-nos em suas mãos, reclinemos nossa cabeça em seu peito, repousemos o peso da vida no colo desse Pai amabilíssimo e misericordioso. Deus nos ama com amor sem igual. Deixemo-nos invadir por essa onda de amor e de reconciliação. Nossas noites podem ser traiçoeiras, mas a certeza da companhia de Deus nos faz enfrentá-la com serenidade e despojamento, no mais completo abandono, para experimentar a beleza de poder sorrir de alegria quando o sol de um novo dia despontar. Por isso, guardemos essa palavra do salmista em nossos corações: “Pode a tristeza durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer!”.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Ave Maria

Composição: Vicente Paiva / Jaime Redondo

Ave Maria
Nos seus andores
Rogai por nós
Os pecadores
Abençoai ! nestas terras morenas
Seus rios, seus campos e as noites serenas
Abençoai ! as cascatas
E as borboletas que enfeitam as matas
Ave Maria
Cremos em vós
Virgem Maria rogai por nós
Ouvi as preces, murmúrios e luz
Que aos céus acendem e o vento conduz
conduz a vós
Virgem Maria
Rogai por nós.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

INCENDEIA MINHA ALMA

Frei Mário Sérgio, ofmcap

Estamos nos preparando para a celebração litúrgica de Pentecostes (50 dias depois da páscoa) no próximo domingo. É a festa do derramamento do Espírito Santo no Cenáculo quando os discípulos estavam reunidos em oração. Maria, a mãe de Jesus, estava presente nesse momento. “Todos estes, unânimes, perseveraram na oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus” (At 1,14). O cenário era de medo, de angústia, de agitação. Jesus havia subido para os céus e a comunidade ainda lutava para compreender o novo que estava por vir. Mesmo assustados, todos perseveravam na oração.

O Espírito Santo veio como “um vendaval impetuoso” (At 2,2). A ideia é que as portas estavam tão bem fechadas, que o vento deveria ser bem forte. Mas, não há barreiras ou obstáculos que o Espírito Santo não possa romper e transformar. É muito fácil o Espírito romper espaços físicos, difícil é penetrar o coração humano, dotado de liberdade e capacidade de escolhas. No coração humano, o Espírito só entra com a devida permissão, nunca arrebenta, nem força a entrada. O Espírito é o doce hóspede da alma. Sempre atento às necessidades humanas, mas muito discreto no seu modo de agir. A unidade da oração dos discípulos fez o Espírito chegar com toda potência. Assim, aprendemos que o Espírito chega na intensidade do nosso clamor, do nosso pedido, da nossa abertura.

Temos, por vezes, um coração tão medroso e assustado como o dos discípulos antes da descida do Espírito Santo. Coração fechado, com medo de enfrentar o mundo, as dificuldades, os problemas, a solidão, a enfermidade, as calúnias e difamações. Coração com medo de um mergulho profundo dentro de si mesmo. Medo de sair de um lugar sombrio, escuro, sem ventilação, mas que nos dá uma falsa sensação de segurança. É o nosso limite humano. Até aqui chegamos, para frente, só pelo vendaval impetuoso do Espírito Santo. É hora de abrir as janelas da nossa alma para o Espírito entrar e renovar tudo. É preciso deixar esse vento tomar todos os espaços do nosso ser. E, sobretudo, deixar-nos guiar por Ele.

O Espírito Santo é nosso defensor, nosso advogado, nossa força. Nós somos moradas privilegiadas desse Espírito. É bem verdade, que nem sempre nossa vida resplandece essa verdade. Com tudo nos abalamos, entristecemo-nos, sofremos, choramos, ferimo-nos e ferimos. Sem a força renovadora do Santo Espírito, nada somos, nada podemos, nada realizamos. O Espírito Santo é a força de Deus em nossa vida. Ele nos renova a partir de dentro. Por isso, precisamos pedir sempre: incendeia minha alma. A imagem do Espírito associada ao fogo é muito interessante pelo poder destruidor do fogo. É desse fogo que precisamos para queimar e destruir nossas indiferenças, nossas vaidades, nosso orgulho, nossa prepotência, nossos medos, nossas depressões, nossas tristezas.

Por fim, não podemos deixar de mencionar os frutos do Espírito na vida daqueles que se abrem verdadeiramente a essa graça: “O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, delicadeza, bondade, confiança, mansidão, continência” (Gl 5,22). O Espírito Santo faz com que superemos, de certo modo, os limites da nossa condição histórica, humana, para atingir uma perfeição que é imagem da perfeição do Pai. Não podemos ter medo de deixar o Espírito agir em nós. O termômetro, para saber se o Espírito está agindo em nosso ser, é ficar atento se estamos colhendo os seus frutos ou não. Eu tenho experimentado amor, alegria, paz, paciência... Se a resposta for negativa, é porque estamos orando pouco. Rezemos/cantemos juntos: “Espírito Santo, vinde, falar em mim! Espírito Santo, vinde, orar em mim! Vinde curar, vinde libertar nossos corações de toda opressão. Vinde transformar, vem incendiar, traz fogo do céu nesse lugar. Incendeia minha alma! Incendeia minha alma! Incendeia minha alma, Senhor!”. Amém!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Maria, nós e a palavra de Deus

Fr. Márcio J. Tessaro

“Tua Palavra é lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho” (Sl 119,105. No documento Partir de Cristo o Papa João Paulo II, diz que a Palavra de Deus constitui “a primeira fonte de toda a vida espiritual cristão”, “é o alimento para a vida, para a oração e para a caminhada diária” (25). Diante da Palavra somos sempre chamados a uma atitude de acolhimento e meditação e assim nutridos, assumir o compromisso da evangelização.

Tem-se na figura de Maria um modelo de acolhimento da Palavra. Maria é aquela que tem os ouvidos abertos para escutar, acolher e cumprir com fidelidade a Palavra. Maria, jovem de Nazaré, foi escolhida por Deus para ser a Mãe do Cristo, Jesus. Sempre fiel às Sagradas Escrituras e a oração, Maria, na sua humildade, coloca-se como serva, vivendo segundo a vontade de Deus: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim, segundo a tua palavra". (Lc 1,38).

Esta atitude de acolhimento da Palavra, revela a postura de uma mãe sempre atenta as apelos de Deus, atitude que se vê desde a anunciação do Anjo Gabriel, em que Maria dá o seu sim, como também no serviço à sua prima Isabel (Lc 1,39-56), nas Bodas de Caná (Jo 2, 1-12), aos pés da Cruz (Jo 19, 25-27), e por fim com os apóstolos no Pentecostes dando início à Igreja (At 2,1-13).

domingo, 16 de maio de 2010

SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

Frei Mário Sérgio, ofmcap

Com a celebração deste domingo, encerramos as aparições do Ressuscitado na comunidade dos apóstolos. A ascensão é o coroamento da encarnação, duas realidades indissociáveis. Quando o Cristo sobe com o corpo para o céu, significa que a encarnação foi uma verdade, não uma fantasia. Ele assumiu nossas dores e veio viver como nós. Mas, essa solenidade nos aponta respostas para as duas grandes dúvidas do coração humano: a morte e o pós-morte. A maior angústia do ser humano é confrontar-se com sua finitude, saber-se limitado e subordinado ao tempo que, inexoravelmente, o levará ao fim. Bom, mas com a morte não se tem jeito a dar, a caminho certo para todo ser vivo. A outra angústia é saber o que existe depois desse processo de morte. Acabaremos como pó? Ficaremos, eternamente, enterrados? A morte é o esquecimento do ser? Essas perguntas afligem o viver humano. Se o interlocutor não souber a quem perguntar, poderá passar o resto da vida num eterno penar.

A ascensão do Senhor nos responde, seguramente, às questões suscitadas. Primeiro, a morte foi vencida e destruída, quando o próprio Cristo a experimentou e a derrotou. O reinado que triunfa, doravante, é o da vida. Segundo, o nosso lugar é o céu, entendido como um estar na presença de Deus, vivendo a plenitude do amor. O Cristo sobe para a casa do Pai e vai preparar um lugar para nós. Somos herdeiros do céu. Isso, antes de ser uma ilusão da religião cristã, é o fundamento da nossa fé. Quem não acredita nessas verdades reveladas, ainda não fez uma madura caminhada na fé e na esperança. Se não nos libertarmos das pseudo-seguranças das ciências, da deusa razão, do experimentacionismo exagerado, jamais poderemos viver a fé, pois a própria ressurreição de Jesus é um evento que extrapola as categorias de espaço e de tempo, campo das possibilidades das ciências. Crer, é deixar os joelhos dobrados para que o Espírito Santo venha em socorro da nossa fraqueza especulativa. Só no Espírito poderemos viver essas realidades e essas verdades. Por isso, o Cristo envia, rapidamente, o defensor, o paráclito, para nos ajudar a caminhar e rezar.

A subida de Jesus aos céus não é um espetáculo os olhos humanos. Não é algo cinematográfico ou “hollyudiano”, mas um ato de pura fé no poder de Deus. A tentação dos discípulos foi ficar a olhar para o céu, vendo Cristo subi e sumir por entre as nuvens. E a primeira leitura (v.11), alertará a comunidade para os desafios da missão: “Homens da Galiléia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus, que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo que o vistes partir para o céu.” O cristianismo não é uma religião onde os fiéis ficam, apenas, olhando para o céu, como se estivesse fugindo do mundo, dos desafios, dos problemas, das dificuldades, mas é a religião das transformações: de si mesmo, do mundo, das relações interpessoais. O cristão deve ser fermento na massa, luz do mundo, sal da terra. Jesus sobe, mas os cristãos devem descer. É o momento de colocar em prática os ensinamentos do Mestre.

A meta da missão é chegar aos confins do mundo. Todo joelho se dobrará ao nome do Senhor Jesus e toda língua proclamará, Jesus Cristo é o Senhor! Todo o universo precisa compreender as razões da nossa esperança, como nos lembra a segunda leitura da carta aos Efésios. E a nossa esperança é a vida eterna. Mas, esse mundo, esse universo, não podem ser realidades distantes de nós. A evangelização acontece no cotidiano das minhas relações: em casa, no trabalho, com os amigos, com os vizinhos, por quem passa em minha vida. Os confins do mundo estão mais próximos de nós do que poderíamos imaginar. Cada pessoa humana é um mundo para ser evangelizado. Por fim, precisamos do mesmo ardor dos discípulos de Jesus no final do evangelho: “Eles o adoraram. Em seguida, voltaram para Jerusalém, com grande alegria.” (Lc 24,52). Que o Cristo Ressuscitado, que subiu aos céus para sentar à direita do Pai, envie-nos o Santo Espírito para podermos continuar sua missão de justiça, paz, perdão e amor.

Que a oração da liturgia nos ajude a rezar: “Ó Deus todo poderoso, a ascensão do vosso Filho já é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois, membros de seu corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”.

Textos bíblicos:

I leitura: At 1, 1-11
Salmo: 46
II leitura: Ef 1,17-23
Evangelho: Lc 24, 46-53

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Agenda

Estou com o mês de maio cheio de atividades no interior da nossa amada Bahia e aqui em Salvador:
Dia 12 - Pregação na novena de Nossa Senhora de Fátima às 19h30, em Vitória da Conquista

Dia 13 - Pregação na novena de Santa Rita de Cássia em Itabuna, bairro São Caetano

Dia 15 - Missa na Igreja de São Raimundo às 17h em comunhão com o Congresso Eucarístico nacional. Local: Centro

Dia 16 - Missa no setenário do Espírito Santo - Paróquia do Divino Espírito Santo - Salvador

Dia 18 - Novena e pregação no Prédio de Ribas e Iraci sobre Nossa Senhora em Salvador

Dia 22 - Pregação e show na cidade Jaguaquara

Dia 29 - Jantar dançante às 19h no Colégio Salette - Barris - Salvador

Dia 30 - Debate sobre Igreja e Comunicação promovida pela PASCOM da Arquidiocese de São Salvador às 9h.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O SERVIÇO NA VIDA DE MARIA

Frei Mário Sérgio, ofmcap

Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre! Donde me vem que a mãe do Senhor me visite? Pois quando a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre. Feliz aquela que creu, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!”. Maria permaneceu com ela mais ou menos três meses e voltou para casa.
(Lc 1, 39-45; 56).


Depois da Anunciação do Arcanjo Gabriel a Maria, e de sua conseqüente aceitação do projeto de Deus em sua vida, Maria responde a esse chamado saindo em missão. O Redentor do gênero humano, Jesus Cristo, estava vivo no ventre daquela jovem e ela exultava de alegria pelas maravilhas que o Senhor fez em seu favor. Mas, O Cristo que estava no ventre Maria não lhe pertencia, Ele era da humanidade inteira, sedenta de paz, de justiça e de amor. Assim, Maria não mediu esforços, nem avaliou o perigo da caminhada pelas montanhas e pôs-se a servir a sua prima, idosa, Isabel que estava grávida, também, por obra do Espírito Santo.

O saudoso Papa João Paulo II, numa catequese no dia da Visitação de Maria (2002), disse: “Onde está Maria, está Cristo; e onde está Cristo, está seu Espírito Santo, que procede do Pai e dele no mistério sacrossanto da vida trinitária. Os Atos dos Apóstolos destacam com razão a presença orante de Maria no Cenáculo, junto com os Apóstolos reunidos a espera de receber o "poder do alto". O "sim" da Virgem, "fiat", atrai sobre a humanidade o dom de Deus: como na Anunciação, também em Pentecostes. Assim continua sucedendo no caminho da Igreja”. A presença de Maria, na vida de sua prima Isabel, encheu aquela senhora do Espírito Santo. Uma sadia devoção a Nossa Senhora, também nos enche do Espírito Santo, sem dúvida alguma. Maria servia pela força do Espírito Santo. Bela afirmação de João Paulo II: onde está Maria, está Cristo e o Espírito. Na carta encíclica, do mesmo Papa, Redemptoris Mater (A Mãe do Redentor) de 25 de março de 1987, diz: Só no mistério de Cristo “se esclarece” plenamente o seu mistério (de Maria)(p.9, n.4). O sentido do serviço prestado por Maria está no Cristo que ela trazia no seu ventre fecundo. A riqueza, a beleza, a profundidade da vida de Maria, repousa no mistério do Cristo. Sem Ele, Maria se esvazia.

O texto bíblico de Lucas nos permite perceber algumas características do serviço de Nossa Senhora:
I – Pôs-se a caminho (...) apressadamente: a ideia de velocidade que o texto traz é fantástica. Assim que o Arcanjo afastou-se de Maria, ela pôs-se a caminho. O discípulo só se reconhece no caminho. Maria foi a primeira discípula missionária do Filho. Foi corajosa, destemida, confiante. A distância de sua cidade Nazaré para Judá era de aproximadamente 80 quilômetros em linha reta. Mas não era possível uma viagem em linha reta pelo relevo acidentado e como pela necessidade de atravessar a Samaria. Geralmente, os samaritanos atacavam os que passavam pelo seu território, principalmente, quem fosse para Jerusalém. Uma mulher não viajaria sozinha, mas em caravanas, por questão de segurança. Contornando a Samaria, a viagem deveria chegar a uns 150 Km. Maria enfrentou os perigos e seus próprios medos. Mas, nada a impediu de prestar seu serviço a Isabel. A certeza da missão que Deus lhe confiara era tão intensa, que Maria caminhou nas pegadas da providência.

II – Isabel ficou repleta do Espírito Santo: cansada da viagem, Maria chega à casa de Isabel e só a sua presença na vida daquela idosa já a enchera do Espírito Santo. Apenas a voz de Maria, quando entrou nos ouvidos de Isabel, já lhe levara o Espírito Santo. Impressionante a abundância da graça de Deus na vida de Maria. Depois desse momento, as crianças se reconhecem nos ventres das mães. João, o precursor, aponta, desde o ventre miraculoso de sua mãe, para Jesus, o Cordeiro de Deus. A voz e a presença de Maria naquele lar fizeram a criança estremecer dentro do ventre da mãe. O fruto da missão e do serviço de Maria aconteceu quando Isabel reconhece o valor da visita da prima, mas, sobretudo, reconhece o fruto do ventre de Maria, Jesus. É Jesus a quem queremos levar quando servimos ao irmão, quando prestamos um serviço na Igreja, quando nos disponibilizamos a servir o Reino. É Por Ele apenas. Qualquer outra motivação pode nos levar ao desânimo, à decepção, à acomodação, à murmuração. Por isso, só pode servir quem foi vocacionado para tal serviço. É um chamado divino, não uma vaidade humana. O serviço deve ser prioridade em nossa vida de cristão. Não posso servir à comunidade porque não tenho outra coisa para fazer; ou porque sou solitário ou solitária; ou, ainda, porque gosto de padre “fulano” ou o coordenador do meu grupo ou movimento. Quem serve por essas motivações, facilmente, abandona o serviço. Se o Cristo não for a nossa motivação, precisamos rever nosso serviço à Igreja.

III – Uma presença (serviço) que faz o outro estremecer de alegria: a simples presença de Maria trouxe uma alegria profunda e verdadeira para aquela família que se sentia amaldiçoada por Deus pela esterilidade de Isabel. A vida de uma mulher se divide em duas etapas: antes e depois de ter filho. Ela, mesmo casada, não se sente completa, por mais que o casamento seja abençoado cheio de amor... A sua plenitude é poder dar a luz, ter um filho em seus braços, amamentar e cuidar. Esse era o tormento de Isabel e Zacarias. Mas, sempre confiando no Senhor! Era um casal de Deus. E foram abençoados. Nosso serviço, independente do lugar que seja, precisa deixar, no coração de quem servimos, a alegria verdadeira do Senhor. Essa alegria é uma certeza da presença de Deus na vida daquela pessoa, muitas vezes sofrida, angustiada, solitária, problemática, sem esperança. O nosso serviço é importantíssimo para que o amor de Deus possa atingir tantos corações. Sinta-se privilegiado por servir ao Senhor nos mais necessitados.

III – Maria permaneceu: esse dado é muito importante para compreender o serviço na vida de Maria. Para servir, não podemos nos preocupar com o tempo. O serviço deve durar o tempo necessário para que o bem seja feito na vida de quem nós servimos. Missionário e servidor do Senhor que serve olhando o tempo todo para o relógio, não entendeu o sentido da missão. É preciso ter a capacidade e a coragem de se desgastar pelo irmão. Maria permaneceu com Isabel o tempo que foi necessário, três meses, mas se fosse preciso ela ficaria muito mais. O servidor não pode utilizar-se do seu serviço para causas próprias. Servindo, queremos que o irmão sinta e faça uma experiência do amor de Deus em sua vida. Para isso, é preciso que o servidor sinta que esse amor de Deus já fora derramado eu seu coração. Servidor que não tem vida de oração pessoal, não se confessa, não comunga, não tem piedade nem caridade, é vazio. Com tudo se irrita, reclama de todos, não tem paz interior, não respeita o espaço do irmão e é sempre causa de contendas. Sem vida de intimidade com o Senhor, nosso serviço é estéril, não dá frutos.

Temos muito que aprender com o serviço de Maria. João Paulo II diz na Redemptoris Mater (p.69): “É para Maria que a Igreja, da qual ela é Mãe e modelo, deve olhar, a fim de compreender na sua integridade o sentido da própria missão”. Precisamos voltar nosso olhar para a Maria bíblica, sem exageros nem friezas. Olhar para Maria do lugar dela, sem confusões. E. Schillebeeckx, teólogo alemão, em seu livro Maria Mãe da Redenção, no finalzinho do prefácio diz: “Na véspera do congresso mariano realizado em Roma em novembro de 1954, Pio XII preveniu os congressistas de dois perigos: o do exagero intempestivo, teológico e sentimental; e o do racionalismo diante do mistério mariano”. È disso que nós precisamos: entender Maria com serenidade, descobrindo o seu modo de ser discípula missionária do Seu Filho Jesus Cristo. No serviço operante de Maria, aprendamos a servir.

Leitura complementar:
1. Maria Mãe da Redenção – E. Schillebeeckx. (1968)
2. Carta Encíclica de João Paulo II sobre A MÃE DO REDENTOR (1987)
3. Nos passos de Maria – Pe. Antônio Bogaz (2003)
4. Maria Corredentora? – Hendro Munsterman (2009)
5. Maria do jeito certo – Pe. Zezinho (2008).
6. Documento de Aparecida – (2007)

domingo, 2 de maio de 2010

QUINTO DOMINGO DA PÁSCOA – REFLEXÃO DA PALAVRA DE DEUS

Frei Mário Sérgio, ofmcap

Do filósofo grego Diógenes o cínico (séc. IV a.C), conta-se que andava pelo passeio público de Atenas, com uma lanterna na mão, dizendo: “procuro um homem”. Hoje, se quiserem achar um cristão, onde o encontrariam? Que sinal distinguiria um cristão de outra pessoa? A liturgia da Palavra do quinto domingo da páscoa resolve esse problema. Na experiência viva e orante da ressurreição de Jesus, a comunidade recebe a força do Espírito Santo para colocar em prática o testamento do Senhor: amai-vos uns aos outros.

O evangelho de hoje é uma seqüencia da traição de Judas. Depois da dor da traição e, de sua iminente morte, Jesus deixa o seu maior ensinamento para a comunidade dos discípulos: em toda e qualquer circunstância, continuem amando-se uns aos outros. Isso Jesus demonstrou na prática no decurso do seu ministério e, agora, demonstrará na serenidade e na confiança com que caminha para a cruz. Jesus fazia todas as coisas por amor. A encarnação do Verbo é a plenitude do amor da Trindade. No amor do Pai com Jesus está o princípio fundante do amor cristão. É um amor de identificação com o amor trinitário. Por isso, é uma forma de amar desafiadora para a humanidade pecadora, limitada, fraca, egoísta, mesquinha, individualista, orgulhosa. É um amor na dimensão da graça, do dom. é amar porque amar é a vocação genuína do ser humano, criado no amor para o amor. A pessoa humana que não ama se descaracteriza, se des-humaniza.

A identificação de que somos cristãos não é, apenas, a pertença a uma igreja ou instituição religiosa, a profissão do credo, a ostentação de símbolo religioso como crucifixos ou estampas religiosas, a freqüência na missa dominical, esses são sinais, mas não é o sinal. A identidade do cristão é o amor. A partir do amor, tudo que o cristão faz tem um sentido redentor. Um ato de amor de um cristão é antecipação do céu na terra. Hoje, o cristão é chamado a amar num mundo de desamor, de descrença, de desesperança. Nisso, reside a atualidade da mensagem de Jesus. A originalidade da vocação cristã é a fé que atua pelo amor.

Como não é fácil viver pelo amor, na primeira leitura Paulo e Barnabé exortam a comunidade a “permanecerem firmes na fé!”. Sem uma experiência profunda e cotidiana de fé, é impossível amar como Jesus amou. Amar é uma é crucifixão também. Tirem a cruz do amor e ele se esvazia. Parece loucura isso, mas é a pura verdade: amar dói. É uma dor porque exige renúncia, mortificação, silêncio, fidelidade, humildade. É uma luta interna de escolhas. Por isso, o amor não é um sentimento, mas uma atitude. A leitura confirma essa afirmação acima quando diz: “É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus”. O testemunho de amor dos cristãos é sementeira de novos cristãos.

A prática do amor cristão faz surgir um novo céu e uma nova terra, como nos exorta João no Apocalipse. O amor muda as relações entre as pessoas e faz a terra virar um paraíso. Jerusalém, a cidade escolhida para ser modelo de vivência de amor, tornar-se-á, verdadeiramente, a Jerusalém celeste, esposa do cordeiro. Mas, Jerusalém celeste, hoje, é a Igreja, é um lar, é o ambiente de trabalho, é a roda de amigos em diversão, é o lugar onde ser exerce o cuidado pela vida. Onde houver amor, ali haverá uma Jerusalém celeste. Nessa cidade, lembra-nos o Apocalipse, “Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem choro, nem dor, porque passou o que havia antes”. É a instauração do reinado da vida em plenitude.

A utopia cristã, no sentido de não haver lugar para a concretização de algo, continua a acender a esperança em tantos corações que acreditam na revolução do amor. Um novo mundo é possível, uma nova pessoa é possível, novas relações são possíveis, quando o amor é a parâmetro que baliza a atitude do cristão. O mundo, mais do nunca, que precisa do testemunho do amor cristão que se traduz em obras concretas, em gestos verdadeiros e sinceros para que o outro tenha vida.


TEXTOS:
I LEITURA: (At 14, 21b-27)
SALMO: 144
II LEITURA: (AP 21, 1-5a)
EVANGELHO: (Jo 13, 31-33a.34-35)