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FOTOS QUE EVANGELIZAM

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SEMANA DA FAMÍLIA 2014

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Abertura do programa de rádio: ESPERAR SEM DESANIMAR

Frei Mário Sérgio, ofmcap

O que as palavras esperança e ânimo têm a nos dizer? Por trás de seus sentidos aparentes – e dos significados cristalizados nos dicionários – as palavras têm uma vida secreta e uma história oculta. Gosto da origem das palavras. Compreendê-las abre um espaço para uma vivência mais saudável de certos valores e conceitos. Uma grande dificuldade da maioria das pessoas é ler e entender o que leu, interpretar. Por não entender determinadas leituras, comumente, desanimam. Isso acontece, sobremaneira, quando o livro que se nos impõe para leitura é a vida. Ler a própria vida e situá-la num contexto real, projetá-la para realizações e concretizações, é a dificuldade da maioria esmagadora das pessoas.

A esperança é uma bússola que orienta a vida. Alguns a consideram ilusão, outros um dom. A mitologia grega nos fala de Pandora, seu nome significa “todos os dons”. Uma bela mulher criada por Zeus com terra e água. Portadora de todos os dons, Pandora era abençoada. Mas, Hermes colocou a mentira em seu coração. Todos os males que poderiam infligir os seres humanos foram guardados numa caixa. Pandora não resistiu à curiosidade e abriu a caixa, liberando todos os males pelo mundo. Só permaneceu no fundo da caixa a esperança. Nessa visão, a esperança é um mal dos deuses. É ela quem evita dos humanos tirarem a própria vida. Ela quem ilude o ser humano da beleza e das possibilidades do viver. Portanto, nesse mito, a esperança é um mal como todos os outros. Assim, a esperança é fonte de alienação para uns e condição de sobrevivência para outros.

Alguns relacionam esperança ao medo. Tenho esperança pelo medo do futuro que me espera. Nietzsche considerava a esperança como o pior dos males. Para nós cristãos, a esperança é uma virtude teologal: a esperança se funda na fé em Deus. São Paulo nos dirá: a fé é uma posse antecipada do que se espera (Hb 1,11). Ivonne Bordelois, em seu livro Etimologia das Paixões (p.139), faz uma análise da palavra esperança: vem da raiz indo-européia spe, que significa expandir-se, aumentar, ter êxito, ser capaz de levar algo adiante. Spe dará em latim spes (espera de um êxito feliz), de onde vem nossa esperança. Nascem várias palavras dessa raiz: pro-spere (prosperar: evoluir segundo o esperado). Em sânscrito o verbo sphayate, derivado da mesma raiz, traduz-se como aumentar. Em grego, spao é tirar, estender. Daí a palavra espada (é algo que você tira e estende). Espátula é outra palavra que significa estender, espalhar. Em inglês antigo encontramos outro descendente: sped, êxito, que também se relaciona com speed, pressa. Portanto, pela origem da palavra, esperança sempre foi algo bom, positivo, motivador. Depois, ao longo da história, acrescentou-se o medo à esperança.

Num mundo de deprimidos, urge acender a chama da esperança em tantos corações. Levar a esperança é enfatizar momentos de força e não de quedas ou fraquezas. É dizer do que o outro é capaz de realizar e não enfatizar suas impossibilidades. Segundo Howard Stone (Depressão e esperança), cada pessoa de fé tem uma visão de mundo. A chave para essa visão é a imagem que cada um tem de Deus. Os melancólicos, de modo geral, têm imagens negativas de Deus como raivoso, distante, desinteressado, incapaz de ajudar, preocupado com outras coisas, fraco, malévolo, desatencioso, punitivo e assim por diante. Essas pessoas são, naturalmente, desanimadas (grego psyché, «soprar, emitir um sopro»/A palavra hebraica para alma é nefesh, com o sentido de sopro/ A palavra latina anima, -ae: princípio vital).

As pessoas deprimidas, desanimadas, melancólicas, precisam apreender um Deus amoroso que está envolvido de maneira direta com o mundo e com sua vida. O mundo grita, como que em dores de parto, esperando homens e mulheres que se disponibilizem a serem arautos da esperança. Animar a vida dos outros, dar-lhes sentido e razão de viver. Ajudar alguém a sorrir, a cantar, a acreditar que tudo é possível àquele que crer. Quem tem esperança e não se sente desanimado (perdeu o sopro que lhe faz viver), aprendeu a viver apreciando as coisas simples e encontrando, neles, impulso para continuar na jornada. Muitas vezes, a paz está no silêncio que não fazemos, no bom dia que não oferecemos, na mão que não estendemos, no sorriso que não partilhamos. Que Fernando Pessoa nos ajude a pensar: “às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido”.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

REFLEXÃO PARA ABERTURA DO PROGRAMA DE RÁDIO - toda quinta 16h. www.am840.com.br

O caminho é deserto

Frei Mário Sérgio, ofmcap

A espiritualidade do caminho faz parte do modo de Jesus evangelizar. Caminheiro incansável, o Mestre ensinava enquanto caminhava. Era preciso fôlego para seguir Jesus. Ele não parava muito tempo em um lugar. Tinha pressa em anunciar que o Reino já chegou. A multidão se aventurava em caminhar com Ele. Muitos cansavam e ficavam pela estrada. Outros perseveravam e o acompanhavam. Era pelo deserto que Jesus passava a maior parte do tempo peregrinando, pela aridez e pelo calor. Por isso, Jesus se chamava, constantemente, de água viva. A necessidade de água fazia Jesus pensar na necessidade de Deus para a vida da humanidade.

O caminho é o nosso lugar. A imagem do caminhante é bela para pensar na transitoriedade do viver humano. Ilude-se, profundamente, que pensa ser eterno e imortal aqui na experiência terrena; quem investe seu tempo e sua vida em colecionar coisas que passam; quem nunca tem tempo para Deus, considerando-O segunda opção quando deveria ser prioridade. A estrada pode ser longa, mas ninguém garante que chegaremos ao seu fim. Daí, a importância de viver, cada passo, com gosto de eternidade. Se caminhar pelas estradas da vida é preciso, tenhamos Jesus por companheiro. No caminho, Jesus é, ao mesmo tempo, amigo-pão-água. Com Ele, todas as necessidades são saciadas.

Como tem gente andando para lá e para cá, sem rumo, sem meta, sem sentido, sem sonhos. Apenas lágrimas, dores, sofrimentos, ilusões. Facilmente, deixam-se enganar por tantos atalhos mentirosos e falsos. Quanto mais o caminho que escolhemos nos afasta de Deus, tanto mais nos descaracterizamos enquanto imagem e semelhança Dele. O próprio Jesus falou: “Sem mim, nada podeis fazer!”. Quanta gente, literalmente, perdida. É tempo de realizar uma metánoia, isto é, uma mudança de rota, de mentalidade, de caminho. É uma grande perda de tempo saber que está no caminho errado e não ter a humildade de voltar e tomar o caminho certo. Sempre que tomamos caminhos incertos, ferimo-nos, machucamo-nos.

O caminho é deserto. Na cultura da desconfiança em que vivemos, ultimamente, caminhar pode ser uma ação perigosa. Os riscos do caminho dobram. Em meio a todo sobressalto, Jesus se nos oferece como amigo, pastor e guia. Por vezes, enchemo-nos de drogas, lícitas ou ilícitas, para ter um momento de sossego, de paz, de serenidade, de sono, de calma. Doce ilusão! Depois do efeito, o vazio se aprofunda mais ainda. Jesus nos faz um convite: “Vinde a mim, vós todos que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei”. Experimente caminhar com Jesus, sem medos e sem reservas, apenas na loucura de acreditar. Você está contente com o caminho que sua vida tomou? O seu lugar, hoje, realiza-lhe como pessoa? Por conta de um caminho que você tomou já se feriu e se machucou? O rumo que você deu a sua vida é fonte de tristeza e de decepção para sua família? Olha, é sempre tempo de tomar o rumo certo. Não desista de acertar, não desista de você mesmo.

Cuidado: nada de ansiedade no caminho. Contemple, olhe, observe, pare um pouco, respire, recomece, descanse... Não precisa pressa. Respeite o seu ritmo. Não pense que caminhando rápido vai alcançar Jesus, pelo contrário, Ele foi quem nos alcançou por primeiro. Porque Jesus não está no caminho, Ele é o Caminho.

Exercício espiritual: dê uma oportunidade para quem errou. Volte a confiar nessa pessoa.

domingo, 18 de abril de 2010

III DOMINGO DA PÁSCOA: COMPROMISSO DO CRISTÃO

As aparições do Ressuscitado sempre aconteceram num contexto eucarístico. Ao longo dos domingos da páscoa, o Cristo está sinalizando seu modo de ressuscitar todos os dias em nossas vidas e em nossas comunidades. É pela eucaristia. O Cristo ressuscitado come e bebe com seus discípulos para dizer que Ele é uma realidade viva, não fantasiosa. Os sinais eucarísticos estão, sempre, presentes: peixe e pão. E a Igreja nos ensina que toda missa é a atualização do único e irrepetível sacrifício de Cristo. E, toda missa é páscoa! “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”. Hoje, a liturgia nos convida a uma pescaria.

O cenário é o Lago de Tiberíades. Vários apóstolos estavam na praia (Tomé, Natanael, os filhos de Zebedeu). Mas, um apóstolo sempre se destaca: Simão Pedro. Depois da ressurreição, o referencial da credibilidade e da evidência da ressurreição é Pedro. É ele quem convida para a pescaria: “Eu vou pescar!”. Todos foram juntos. Naquela noite (ausência de Deus) não pescaram nada. Os discípulos começaram a entender que sem Jesus, sem a presença do ressuscitado, não pescaria daria resultado. A pesca é a ação missionária da igreja. E, o Cristo sempre disse: sem mim, nada podeis fazer. Quando o dia amanheceu, Jesus já estava na praia. Sol, luz, Jesus. Comer, esse foi o pedido de Jesus. E manda os discípulos lançar as redes novamente.

Provavelmente, de pesca, Jesus nada entendia. Mas, era outra pescaria que Jesus preparava para aqueles homens. Lançar a rede à direita, eis a ordem. A mesma direita que gerou Eva. A direita que gerou a Igreja, do peito aberto da misericórdia, onde jorrava sangue e água. Hoje, a fecundidade daquela pescaria vem da direita. E o milagre aconteceu. Ninguém mais, naquele grupo, tinha dúvida no coração: é o Senhor! Muitas vezes, nossa vida é uma pescaria noturna que não rende nada. Problemas, dificuldades, solidões, tristezas, desesperanças, desencontros... Se Jesus não aparecer ao amanhecer, nossa vida será um desastre. Porém, é preciso ter a coragem de ouvir a Palavra do Senhor nos mandando fazer a mesma coisa, de uma forma diferente, que fizemos ao longo de toda noite. A diferença é que estaremos na barca com Jesus. Sofrer é um caminho inexorável do viver humano, mas sofrer com Jesus é redentor, é libertador, tem sempre uma esperança a iluminar as escuridões do existir.

No final desse milagre, vem a grande exigência do Cristo Ressuscitado: cuidar das ovelhas. Para cuidar é preciso amar. Por três vezes, Pedro é interpelado pelo Mestre Jesus: Tu me amas? Por fim, Pedro diz: Senhor, sabes tudo, sabes que te amo. Então, Jesus disse: apascenta minhas ovelhas. Quando olhamos o mundo ao nosso derredor, percebemos quantas ovelhas feridas existem perto de nós. Jovens feridos pelas drogas e pelos dramas de um país que não oferece grandes expectativas de vida; esposas e esposos feridos em seus casamentos desastrosos; pais e mães feridos pelos desequilíbrios dos filhos; homens e mulheres feridos pelo desemprego e suas conseqüências; idosos feridos pela solidão nas grandes cidades ou em seus abandonos. E, a pior das feridas: o medo de acreditar em Deus. E tantas outras feridas. Talvez, essa ferida esteja aberta dentro de você. Mesmo assim, o mundo precisa de nosso cuidado. Mesmo ferido, somos capazes de curar as feridas dos outros.

A liturgia do III Domingo da Páscoa é um convite a confiar mais em Jesus e, por Ele, se capaz de doar a vida e cuidar das ovelhas. A fé na Ressurreição é o ponto de chegada de todas as nossas muitas procedências e ponto de partida para a única direção cristã. Três desafios para a nossa vida a partir da liturgia de hoje:
a) a vivência da nossa esperança cristã;
b) a celebração do Domingo como páscoa semanal. Você tem participado da celebração dominical da missa? Que católico somos se não assumimos nossa fé?
c) Somo todos missionários na barca (igreja). Você tem sido um anunciador da Palavra de Jesus, por testemunho e por palavras?
Pense nisso!!!

sábado, 17 de abril de 2010

Está acontecendo, aqui em Salvador, o XXIII Encontro Nacional dos Pastoralistas Capuchinhos (são os frades responsáveis por paróquias, missões, capelanias militares ou hospitalares, santuários). O tema é Moral e Atendimento Individual. São mais de 50 frades de todas as Províncias do Brasil. De 13 a 20 de abril na casa de retiro São Francisco no bairro de Brotas.

domingo, 11 de abril de 2010

Tomé e nossas incredulidades

Frei Mário Sérgio, ofmcap

Sempre que rezo, pensando na misericórdia de Deus, uma reflexão não sai da minha mente e do meu coração: misericórdia é uma atitude que NASCE quando quase tudo está MORTO. Em Jesus Cristo, plenitude da misericórdia do Pai, podemos experimentar essa realidade. Todas as pessoas que tiveram a graça de um encontro pessoal com Filho de Deus chegaram mortos em alguma dimensão da vida. E saíram banhados pela misericórdia infinita. É próprio da misericórdia de Deus fazer a vida renascer onde só havia entulhos, sujeira, desamor, tristeza, depressão, dor e sofrimento. Por isso, exultamos como o salmista (Sl 117): “Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom! Eterna é a sua misericórdia”.

O segundo domingo da páscoa é dedicado à Divina Misericórdia. E, toda a liturgia da Palavra, leva-nos a mergulhar nesse oceano de graças que emanam do peito aberto de Nosso Senhor na cruz. O Ressuscitado faz sua aparição para toda a comunidade reunida. Estavam com as portas fechadas, por medo. Não muito diferente é o nosso coração. Temos medos que nos paralisam, bloqueiam-nos, faz-nos desistir de metas e sonhos. Muitos acreditam nos seus próprios fracassos e vivem como se mortos fossem. Mas, o Ressuscitado, ao aparecer aos discípulos, a primeira atitude é devolver a paz aos corações aflitos: “A paz esteja convosco!” (Jo 20,19). Sem paz interior, é mais difícil, ainda, experimentar a presença do Cristo Ressuscitado em nosso meio.

Quem é mesmo o ressuscitado? Uma imaginação coletiva dos discípulos? Um fantasma ou uma assombração? É o passo seguinte que o Cristo dará para abrir a inteligência dos discípulos. O Ressuscitado é o mesmo Crucificado! Quem prega a ressurreição sem a cruz, esvazia a missão redentora de Jesus. Então, o Cristo mostra as marcas da cruz. Cada discípulo pode ver com os próprios olhos, sentir, observar. De fato, Ele vive! Depois que todos viram que era, verdadeiramente, Jesus de Nazaré, receberam a paz novamente e o envio missionário. Ninguém pode guardar o Cristo para si. Ele não é propriedade de nenhuma comunidade, de nenhum discípulo. O Cristo Ressuscitado deve ser uma realidade para toda a humanidade. Portanto, é necessário anunciá-Lo.

Outro dom do Ressuscitado, para a comunidade dos discípulos, é a missão de perdoar os pecados: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles serão retidos” (Jo 20,23). Perdoar pecados não é um ato, apenas, moral; mas, é possibilitar, ao outro, uma vida nova. Por isso, o sacramento do perdão dos pecados chama-se Sacramento da Misericórdia, exatamente, pela vida nova que ele oferece a quem tem a humildade de se reconhecer pecador. Os pecados são perdoados pelo Espírito Santo dado, pelo Ressuscitado, aos discípulos. Descubra a graça, a beleza e a eficácia desse belíssimo sacramento!

Por fim, a liturgia da Palavra lança-nos um desafio e faz-nos uma denúncia. Quando o Ressuscitado saiu da presença da comunidade dos discípulos, apareceu, em cena, uma figura interessantíssima e controversa: Tomé. Não se sabe por quais motivos, mas ele não estava na primeira aparição do Cristo. Ao saber da notícia, ele duvidou. Aqui está a denúncia: como apresentamos o Cristo vivo para os outros? Se a ressurreição de Jesus não for uma convicção em minha vida, em meu coração, em minhas atitudes, nunca terei como demonstrar, ao outro, ao mundo, à minha família, que Ele vive! Se os discípulos estivessem empolgados, felizes, com cara de vida nova, eu duvido que Tomé não acreditasse. Claro que ele iria acreditar, porque os outros falariam de Jesus com verdade e vida.

Oito dias depois, o Cristo Ressuscitado aparece, e as portas ainda continuam fechadas (Jo 20,26). Como o ser humano é lento para acreditar, para se lançar... Todos, ainda, acomodados. Quando Jesus entra naquele recinto, devolve, mais uma vez, a paz. Claro, portas fechadas, sinônimo de medo ainda, logo, de ausência de paz. E, acontece o inusitado: o Ressuscitado permite ser tocado pela incredulidade de Tomé. O único que teve a graça de tocar na fonte da misericórdia: as chagas de Jesus. Depois que Tomé toca no Cristo, nasce o desafio: “E não sejas incrédulo, mas fiel” (Jo 20, 27). É isso mesmo, o Ressuscitado nos pede, apenas, uma coisa: fidelidade. Temos sido fiéis ao Cristo? Graças a Tomé, o Ressuscitado faz uma única bem-aventurança: “Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (Jo 20, 29).
Que nossa fé no Ressuscitado nos torne, cada dia mais, verdadeiros discípulos missionários do Senhor. E, que possamos declarar sempre: Meu Senhor e meu Deus.