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FOTOS QUE EVANGELIZAM

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sexta-feira, 11 de setembro de 2009

MEDO E FÉ

MEDO E FÉ
Frei Mário Sérgio, ofmcap

O que seria do ser humano se ele não tivesse medo? Atravessar uma rua sem medo de olhar para os lados para verificar se vem carro, entrar em avião sem medo das alturas e da falta de manutenção das aeronaves, pegar a auto-estrada sem medo da imprudência, da velocidade que mata, olhar para o outro sem medo de ser mal interpretado, andar pelas ruas despreocupados com a violência, mergulhar no mar sem medo das ondas... Enfim, a lista seria interminável. Poderíamos estar mortos há muito tempo! Assim, podemos perceber que o medo pode ser um aliado da vida. Tem momentos que devemos dizer: que bom que sinto medo! Dentre os vários mecanismos de defesa da vida, o medo é um dos mais instigantes. Ele pode ser inato (associado à sobrevivência da espécie) ou adquirido (podemos adquirir novos medos, ao longo da nossa história particular, através de determinadas relações sociais também envolvendo aprendizagem do tipo associativa). Qual a participação do cérebro no sistema motivacional do medo? Segundo alguns neurocientistas, o cérebro muda o comportamento e o comportamento muda o cérebro. E isto somente é possível graças à enorme plasticidade das células nervosas ou neurônios que compõem este órgão. O cérebro humano contém cerca de 50 a 100 bilhões destas células, as quais se comunicam entre si através de um processo extremamente dinâmico denominado sinapse. Existem mais sinapses em nosso cérebro do que estrelas nas galáxias! Sentimos medo de sinais de perigo porque as sinapses envolvendo determinados neurônios respondem de maneira específica na presença destes estímulos. Desta forma, desvendar as principais estruturas cerebrais que são ativadas na presença de sinais de perigo, ou seja, entender o funcionamento dos principais instrumentos dessa enorme orquestra sináptica que tocam a sinfonia do medo, vem sendo apontado como um grande passo para sabermos como o cérebro sente e reage ao medo. A amígdala é quem sinaliza quando sentimos medo... Perigo à vista! Aí, já era, os dois generais se reúnem em caráter de emergência e traçam uma estratégia, são eles: a matéria cinzenta periaquedutal e o hipotálamo. Depois dessa reunião, o hipotálamo, pequeno mais ousado, manda ordens para a medula da supre-renal liberar a adrenalina... aí é só correr! Por fim, o medo supri a dor.
Que tem Jesus de Nazaré, um carpinteiro nascido a mais de dois mil anos atrás, sem nenhum conhecimento de neurociência, psicologia, biologia, e tantas outras ciências, com esse tema? É que Jesus sempre exortou àqueles que lhe ouviam para não terem medo. Disse para Jairo, “Não temas, crê somente!” (Mc 5,36). Também aos discípulos, “Por que tendes medo? Ainda não tendes fé?” (Mc 4, 40). Jesus se preocupava com as reações do medo no coração e na vida dos seus discípulos. Também sabia, Jesus de Nazaré, que o medo pode levar à falta de fé. O medo pode paralisar o indivíduo. E um discípulo medroso comprometeria todo o projeto de Jesus.
O medo nos põe em fuga; mentimos, por medo da verdade; escondemo-nos de nós mesmos e dos outros, perdemos a alegria, a espontaneidade. O medo traz uma vida de sobressaltos, e uma sensação onipresente de que "algo ruim vai acontecer!”. Mas, São João, diz-nos: “Não há temor no amor; ao contrário, o perfeito amor lança fora o temor, porque o temor implica castigo e o que teme não chegou à perfeição do amor” (1Jo 4, 18). Quanto mais me encho com o amor que vem de Deus, não sobra espaço para medo algum. O medo ocupa os espaços vazios que deixamos em nosso ser, e a sua tendência é expandir, crescer e nos dominar. Quando colocamos o amor no centro de nossas vidas, impedimos que o medo cresça e nos domine. Amar é o nosso modo de viver. O amor lança fora o medo.
A fé nos ajuda a lidar com os medos, principalmente quando juntamos à ela o nosso esforço em superá-lo, tomando consciência de que somos nós que mandamos em nossos sentimentos, e não o contrário. Como a ciência nos mostra, ainda teremos de conviver muito tempo com o medo, porém, podemos aprender a fazer dele um aliado e não um inimigo. Penso que seria isso que Jesus nos exortaria: quando tiver medo, lembre-se, sua fé pode ajudar a superá-lo. Não se bloquei, não se tranque, não se feche dentro de si mesmo ou de quatro paredes. Caminhemos com a biologia, a psicologia, a neurociência dos nossos medos, mas sobretudo com a teologia da nossa fé.